SINOPSE: "Quando atropelaram o pequeno Daniel Gregg, os amigos Julie, Helen, Ray e Barry fizeram um pacto de nunca revelarem o que aconteceu na noite do acidente. Mesmo tendo mantido absoluto silêncio por um ano, alguém parece saber a verdade. Um bilhete anônimo, com uma única frase – 'Eu sei o que vocês fizeram no verão passado' – dá início ao pior pesadelo dos quatro jovens. O segredo veio à tona, e eles precisam ser mais espertos que seu perseguidor, ou podem ser os próximos a morrer."
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Só pela sinopse já conseguimos enxergar diferenças entre o livro publicado em 1973 por Lois Duncan e o filme de 1997, dirigido por Jim Gillespie e roteirizado por Kevin Williamson. Mesmo que Duncan tenha seguido uma proposta diferente em sua obra, isso não significa que ela deva ser tratada com menos importância, afinal, o suspense é um gênero tão surpreendente quanto o slasher.
O bacana de ter duas obras distintas, é que mesmo uma sendo “baseada” na outra, é possível se surpreender com o livro até para quem já havia assistido o filme ANTES. Algo bem raro de se acontecer, porque, geralmente, as adaptações já contêm toda a base do enredo original, deixando bem sem graça lermos o livro após já termos assistido sua adaptação. E sim, mesmo sabendo que no livro existem detalhes que não estão no filme, ainda assim fica sem graça na maioria das vezes.
Então, o que Williamson fez aqui? Já que não podemos dizer que o filme foi “adaptado”, e a palavra “inspirado” também seja algo um tanto distante pelos quatro personagens centrais estarem lá e suas respectivas situações e características. Talvez, então, “reimaginado” se encaixaria melhor. A questão é, mesmo eu tendo visto comentários dizendo que o livro não era tão bom quanto o filme, que era previsível e etc, resolvi dar uma chance e tentei descobrir por que ele é também considerado um clássico literário do suspense. E olha...que bom que dei essa chance (além de conseguir um preço bem bacana).
“Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado” é um livro simples, de 200 e poucas páginas, mas que antes de tudo, se destaca pela escrita de Duncan. Sua característica me lembrou bastante a Série Vaga-Lume, coleção de livros brasileira, voltada para o público infantojuvenil. Ela consegue unir riqueza com simplicidade de uma forma única. Algo ideal para quem está começando a pegar o hábito da leitura, prezando também, claro, por um conteúdo relevante. No meu caso, foi pela afeição aos personagens do filme de 1997 mesmo e pura nostalgia. Além de ter me lembrado que esse livro existia só agora. Algo que nos anos 90, quando slashers voltaram a explodir, ele infelizmente passou despercebido.
Com personagens mais estereotipados do que desenvolvidos, o que temos no livro é suficiente pra prender nossa atenção do início ao fim, mesmo que em um ritmo bem diferente de um slasher. O desenrolar da trama parte pro lado investigativo, mas sem um detetive no caso, afinal, ninguém deveria saber o que eles fizeram no verão passado, e a polícia não poderia estar envolvida, mesmo que as ameaças começassem a chegar.
O único defeito do livro é que ele acaba. Quando atinge seu pico e aparecem suas reviravoltas, ele já está praticamente em suas últimas páginas, nos deixando com essa sensação de que poderia haver, no mínimo, um epílogo. Mesmo levantando temas bem atuais (e polêmicos) sobre as leis e o senso de justiça, achei que Lois Duncan preferiu deixar o caso aberto, havendo uma parte dramática sobre culpa e algo encaminhado para o que seria um tribunal. Mas já que a história é só sobre adolescentes, não precisaria disso tudo, não é verdade? Então, quem dera adolescentes pelo menos estivessem lendo esse livro.
As diferenças do livro e do filme de 1997
Brilhantemente, tiveram a ideia de transformar a história em um slasher. Colocaram a lenda urbana "O Gancho" num diálogo ao redor de uma fogueira, a Julie já não é mais ruiva como no livro, o sobrenome da Helen não é mais “Rivers”, mas “Shivers” (seria erro de digitação do roteirista? Quem sabe), Elsa continua invejosa, Barry um babaca, e Ray continua...Ray. Porém, confesso que houve bastante criatividade da parte de Kevin Williamson, apesar de muitos considerarem esse filme algo “genérico”, por ter sido lançado um ano depois do estrondoso “Pânico” (1996) e parecer ter pego carona.
Mas o diferencial no “Fisherman” é a forma como ele gosta de brincar com suas vítimas, sem tanta necessidade de matá-las de imediato. Por se tratar de um slasher, isso poderia ser um problema. Afinal, slasher sem mortes não é slasher! E o filme queria sair da proposta do livro de ser apenas um suspense. Com isso, o roteiro acaba ficando um tanto confuso e perde algumas oportunidades de deixar personagens secundários vivos (que já não são muitos) para aumentar as possibilidades de suspeitas acerca de quem poderia estar por trás da roupa de pescador.
Nisso, “Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado” (1997) perde um pouco a força, mesmo que consiga se sustentar de outras formas. Apesar de Kevin ter se inspirado bastante no livro e agregado pontos bem interessantes, talvez faltou um detalhe primordial que fizesse com que seu plot twist final não ficasse com um ar de aleatoriedade.
Gostei bastante da direção do escocês Jim Gillespie, que conseguiu criar bons momentos de tensão e perseguição memoráveis, extraindo o talento das jovens Jennifer Love Hewitt e Sarah Michelle Gellar. Gillespie conseguiu fazer um simples barco de pesca se tornar algo enorme e apavorante, numa sequência final recheada de ação. O filme acaba com um “gancho” para uma sequência, que seria lançada já no ano seguinte - 1998 - e essa cena final, que incomodou tantas pessoas, seria realmente compreendida.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)
Eu ainda sei...
Mudando a paleta de cores frias para cores quentes, e agora com o britânico Danny Cannon na direção e Trey Callaway no roteiro, pelo menos o elenco do primeiro filme está de volta. Com o acréscimo da ótima e carismática Brandy Norwood e de Mekhi Phifer, temos outro quarteto pronto para novas aventuras. "Eu Ainda Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado" (1998) traz o que faltou no plot twist do primeiro filme. Provavelmente leram o livro de Lois Duncan novamente.
Ambientação paradisíaca numa ilha das Bahamas, temos o cenário perfeito para que tudo dê errado, uma tempestade ancestral os alcance e corpos comecem a aparecer num hotel que não é tão 5 estrelas como disseram na promoção da rádio. Os brasileiros assistindo, e que conheciam qual era a capital do próprio país pelas aulas de geografia, se ligaram desde o início que algo estava estranho. A questão era só saber o porquê, e..."quem".
Com uma das melhores trilhas sonoras já feitas para um filme de horror, Danny Cannon conseguiu me ganhar só com a cena de abertura. Julie precisando de terapia na faculdade com uma crise histérica, traumática e paranoica, enquanto Ray tenta se resolver em Southport e desenrolar a vida. Temos aqui uma sequência que pareceu ter sido filmada junto do original, dando uma continuidade de forma substancial em sua intensidade e amadurecimento de seus personagens, mantendo assim, um bom motivo que fizesse um fantasma do verão retrasado voltar dos mares em busca de mais vingança.
Mas a palavra que grita mesmo aqui seria INTENSIDADE. Tudo nessa sequência está à flor da pele, enquanto uma baita tempestade os aprisiona e um assassino acumula corpos nos armários, porões, sótãos, cais, piscinas, cozinhas, quartos, jardins, estufas, por TODO O LUGAR dessa ilha meticulosa e calculada. A armadilha que os envolve só poderia chegar numa única solução: enfrentar seus pesadelos.
Danny Cannon constrói um embate de clímax alto entre Julie e seu algoz, nos proporcionando momentos icônicos e de arrepiar, seguidos de sua trilha sonora marcante e incessante. Vale ressaltar alguns diálogos do roteiro que ajudam muito em toda essa construção, contribuindo também para a ótima e sólida atuação de Jennifer Love Hewitt. Aqui, tudo seria resolvido de uma vez por todas, mesmo que, nessas histórias..."SEMPRE" dão um jeito de trazer o passado de volta para assombrar.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)
"How Do I Deal" - Jennifer Love Hewitt