[Crítica] O Juízo (2019): Um diamante encontrado


"O Juízo" veio de forma despretensiosa para surpreender e mostrar que o suspense também faz parte do cinema brasileiro, e com qualidade. Filme bastante técnico e com linda fotografia, ambientação bucólica e colonial. Direção inspirada de Andrucha Waddington, que consegue utilizar muito bem o que tem em mãos, com um "timing" de edição muito bom, nos mantendo interessados nos mistérios de sua história mesmo o filme passando por alguns momentos de ritmo mais lento, principalmente em seu 1º ato. O roteiro beira o poético, escrito pela maravilhosa Fernanda Torres, que retrata a ambição do homem carregada por suas maldições.

Fernanda Montenegro é um ícone do cinema brasileiro e isso eu nem precisaria ressaltar. Ela consegue carregar o peso de algumas cenas só com o tom de voz, mas quem rouba a cena mesmo é Criolo, com seu personagem antagônico. Mesmo sem tanta experiência talvez, o talento dele ficou ali, entregue, estampado num olhar que conseguiu me dar calafrios. 

Assistir esse filme foi como estar diante das histórias de assombração que meu avô costumava contar quando eu era criança, voltando assim a falar da ambientação intimista, que contribuiu bastante para que eu entrasse de cabeça na história. 

"Se há algum espírito presente, que ele se manifeste!"

Esse filme mostra de forma inteligente e eficaz que às vezes a construção do suspense está na sutileza e simplicidade de como tudo nos é apresentado. Assim, "O Juízo" acaba dando aula para muito filme estrangeiro, cheio de recursos e exageros. Sem a necessidade de efeitos visuais, jump scares ou clichês baratos, somos apresentados a uma história genealógica assustadora. E quem for pego desprevenido por suas reviravoltas, vai entender muito bem do que estou falando. Espero que o cinema nacional deslanche nesse gênero também e futuramente possamos encontrar mais "diamantes de família" como esse.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)