"O Juízo" veio de forma despretensiosa para surpreender e mostrar que o suspense também faz parte do cinema brasileiro. Filme bastante técnico e com linda fotografia, ambientação bucólica e colonial. Direção elevada de Andrucha Waddington, que consegue utilizar muito bem o que tem em mãos, com um "timing" de edição muito bom, nos mantendo interessados nos mistérios de sua história mesmo que o filme passe por alguns momentos de ritmo mais lento, principalmente em seu 1º ato. O roteiro beira o poético, escrito pela maravilhosa Fernanda Torres, que retrata a maldição acerca de toda a ambição do homem que um dia retorna para um acerto de contas final.
Fernanda Montenegro é um ícone do cinema brasileiro e isso eu nem precisaria ressaltar. Ela consegue carregar o peso de algumas cenas só com o tom de voz. Mas quem rouba a cena mesmo é Criolo, com seu personagem antagônico. Mesmo sem tanta experiência, o talento dele ficou ali, entregue, estampado num olhar que conseguiu me dar calafrios.
Assistir esse filme foi como estar diante das histórias de assombração que meu avô costumava contar quando eu era criança, podendo voltar a falar da ambientação intimista, que contribuiu bastante para que houvesse uma imersão de cabeça na história.
Aqui entendemos mais uma vez que a construção do suspense está na sutileza e simplicidade de como tudo nos é apresentado, tornando-o eficaz por sua forma inteligente e refinada de se expressar. Assim, "O Juízo" acaba dando aula para muito filme estrangeiro, cheio de recursos e exageros. Sem a necessidade de efeitos visuais, jump scares ou clichês baratos, somos apresentados a uma história genealógica sensível e assustadora. Quem for pego desprevenido por suas reviravoltas vai entender muito bem do que estou falando. Espero realmente que o cinema nacional deslanche nesse gênero e futuramente possamos encontrar mais "diamantes de família" como esse.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)