A questão agora não é Michael Myers, mas Laurie Strode. Isso é o que "grita" nesse requel. Filme onde seus erros se tornam mínimos com o tamanho da atmosfera que constrói. De uma coisa tenho certeza, Jamie Lee Curtis pode se orgulhar do seu posto de "scream queen" concedido através desse papel no clássico de 1978.
Fica aqui uma curiosidade cronológica com os anos de lançamento dos filmes: "Halloween: A Noite do Terror" (1978) - "Halloween H20: 20 Anos Depois" (1998) - E agora "Halloween" (2018), que poderia ter sido intitulado como "H40: 40 Anos Depois".
Como é bom ver a franquia "Halloween" ressurgir de uma forma tão honrosa, afinal, sabemos que na maioria das vezes o resultado não é bem esse. Com o retorno de John Carpenter como compositor, produtor executivo e consultor criativo, entendemos o porquê de tanta proximidade ao original. O roteiro de Jeff Fradley, Danny McBride e David Gordon Green (esse último, assumindo também a cadeira de diretor), faz um trabalho que vemos se desdobrar em algo primoroso, por ter esse cuidado de ligá-lo ao clássico de 78 com referências atemporais. Vemos que, às vezes, o passado não quer ficar lá, mas vem por três gerações como uma maldição hereditária que reluta em ser quebrada.
Já na abertura é possível sentir uma coisa diferente: o carinho pela franquia. A trilha sonora de "Halloween" é daquelas que passou a ser um personagem implícito, capaz de nos arrepiar sem precisar de letra, e aqui, vemos ela ser usada com maestria e precisão, sem exageros. Tanto seu uso como a ausência de trilha sonora, são ponderados e propulsores de tensão e imersão do espectador.
Unindo isso ao clima pesado criado em torno de seu vilão - Michael Myers - fica explícito o quão importante é entender a essência de um personagem. O roteiro levanta questionamentos psicológicos bem interessantes sobre a obsessão de quem tenta entrar profundamente na mente de Myers.
Jamie Lee Curtis traz a questão dramática como um dos pontos altos. Judy Greer e Andi Matichak (que interpretam filha e neta de Laurie Strode, respectivamente) completam a árvore genealógica com grandes momentos de destaque.
Ao chegar dia 31 de outubro, vemos um Michael Myers caminhando com naturalidade sanguínea por Haddonfield, perambulando pela vizinhança em busca de uma faca para iniciar o seu rastro de vítimas, de forma crua e aleatória. Uma cena que me lembrou bastante o início de "Halloween 2: O Pesadelo Continua" de 1981. Em detalhes como esse que esse filme de 2018 se eleva.
O único ponto de deslize foi o dilema acerca de um lado sobrenatural em Myers (que lhe dá uma força física maior e em como ele mata suas vítimas), característica presente no clássico e que acharam necessário trazer de volta. Acredito que nem tudo que deu certo no passado, vai dar agora. A intenção foi até boa, mas achei desnecessária. Nesse pequeno detalhe, o filme assusta por destoar totalmente do enredo "pé no chão" que foi construído, e ao invés de chocar quando a cena acontece (que é apenas uma), só acaba parecendo forçado.
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"I got you!" |
Apesar disso, tudo volta a ficar de pé pro embate final e a lavação de roupa suja em família. Aquele clima de grand finale (beirando até o "épico", diria) e uma satisfação merecida, entregue aos fãs que já estavam cansados de sequências, remakes ou reboots de gosto duvidoso e intenção questionável. Em 2018, podemos enfim dizer que o tiro foi mais que certeiro.
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR