Johannes Roberts fez com o oceano o que Alfonso Cuarón fez com o espaço em "Gravidade" (2013). Para quem tem talassofobia, esse será um pesadelo onde o fim nem será com o alívio de se recuperar o fôlego e conseguir respirar de forma tranquila novamente, mas por estar em terra firme e longe de uma imensidão escura e totalmente hostil. Nunca o fundo do mar se apresentou tão realista e ameaçador num filme. Muitas vezes, a graça nesse gênero é justamente o homem querer se enfiar em lugares que talvez não seja para ele se atrever a explorar, e que mesmo assim, ele vai. Inclusive, isso não acontece só em filmes, sabemos bem.
"47 Meters Down" ("47 Metros Abaixo" em tradução literal) com uma confusão em seu título antes de seu lançamento, que a princípio era pra ser "In The Deep", mudando para "47 Meters Down", e chegando aqui no Brasil como "Medo Profundo", um nome repetido, utilizado pra batizar um crocodilo assassino lançado em 2007 - "Black Water". Então, qual seria o problema da distribuidora ter deixado literalmente "47 Metros Abaixo"? Enfim...
O que impressiona bastante é seu orçamento: $ 5,3 milhões. Algo muito baixo pra eles terem entregado o que entregaram. Um CGI praticamente perfeito (ou usaram tubarões de verdade? E por isso os gritos da Mandy Moore saíram tão realistas) e não deve ser nada fácil filmar debaixo d'água, que por sinal, é a maior parte do filme. Com isso, acredito que "tiraram água de pedra" nesta produção.
Já na cena de abertura vemos uma boa mão e capricho. Fazendo uma analogia ao sangue, com uma bebida vermelha caindo numa piscina de hotel, um ângulo de câmera sugestivo, mostrando essa mancha vermelha na água, e o título do filme surgindo na tela. Mesmo que o 1º ato não seja o forte de seu roteiro, a química entre Mandy Moore e Claire Holt como duas irmãs de férias acaba nos fazendo esquecer dos problemas. E o que vem depois é tão intenso, que muitos pensarão duas vezes antes de fazer um passeio clandestino durante sua viagem.
Um dos grandes diferenciais é a história se passar praticamente INTEIRA no fundo do oceano. Após o acidente acontecer e a gaiola se soltar (cena que está no trailer e que me impressionou muito quando vi na íntegra, principalmente pelo realismo e sua mixagem de som), não há cenas intercaladas entre elas no fundo e os homens no barco, é somente lá embaixo! Deixando uma extrema sensação de que "afundamos" com elas. A ultima vez que senti isso foi em "Kill Bill - Vol. 2" (2004), na cena em que a personagem de Uma Thurman é enterrada viva, com a tela ficando preta e o espectador sendo imerso em toda aquela claustrofobia, onde se escuta apenas o som da terra batendo na tampa do caixão e a aflição de Beatrix Kiddo lutando pela sobrevivência.
A única coisa que não achei muito conveniente foi a trilha sonora. O silêncio do fundo do mar talvez tornasse as cenas ainda mais densas. Uma fotografia que nos remete a um found-footage, mas com qualidade e sem deixar que tudo ficasse cheio de imagens confusas, escuras demais. Justamente por essa característica que temos aqui um dos maiores jump-scares já feitos no gênero. E não é apenas um. Quase cai da cadeira!
Diferente da maioria dos filmes com animais assassinos, aqui vemos algo bem mais "pé no chão". Os tubarões não são "animais-monstros modificados geneticamente" ou possuem o instinto de um "serial killer" que persegue suas vítimas incessantemente. Aqui, a própria situação se sustenta, sem abrir furos de lógica, e assim, contribuir para o alto nível de tensão nessa busca pela sobrevivência. Algo bem parecido vemos no também excepcional (e que também entrou pro meu "TOP 10 - Melhores filmes de terror de todos os tempos") - "Abismo do Medo" ("The Descent") de 2005.
Mandy Moore e Claire Holt dão um show e carregam boa parte dessa tensão com suas atuações. "Medo Profundo" (2017) não só explora de forma genial um dos maiores medos do desconhecido já vistos (nesse caso, a imensidão escura do fundo do mar), mas também coloca o espectador na pele de seus personagens, nos fazendo torcer por eles. Talvez por isso, a agonia chega a níveis absurdos e os tubarões acabam sendo apenas um dos problemas, afinal, com o oxigênio acabando, existem muitas outras circunstâncias a se considerar.
Pode ser que alguns não se sintam (vivos até o final) satisfeitos com o final, mas é incontestável onde esse filme consegue nos levar quando falamos sobre imersão, medo do desconhecido e tensão. Seja pela superfície, ou 47 metros abaixo.
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR
Trailer: