[Crítica] Relíquia Macabra (Relic)


A diretora estreante Natalie Erika James é um nome a ser observado. Talentosíssima! A técnica utilizada com uma narração sobreposta a uma cena subsequente é um dos detalhes para poder classificá-lo como algo refinado. Nessa parte técnica, destaque para a mixagem e edição de som. Trilha sonora cheia de personalidade, que não tenta imitar outros filmes, mas demonstra ter uma identidade única, assim como o próprio filme em si. 
No início, achei que ela se apresenta surpreendente, mas depois de um tempo comecei a achá-la incessante. E foi aí que entendi sua real intenção de estar tão presente durante o desenrolar da história: a sensação de sufocamento.

Porém, estou esperando ansiosamente os trinta minutos restantes no final dessa emblemática história. Com uma hora de duração, você está submerso no mistério e na curiosidade por descobrir o que está acontecendo ali. Um mistério que já me fisgou desde o início, e por isso, acreditava que ele tinha algo diferenciado a mostrar, sem necessidade de recorrer a clichês do gênero, conseguindo se sustentar apenas com uma história bem desenvolvida e interessante. 

E justamente a partir dessa uma hora de duração que "Relic" (2020) acaba escorregando. O surrealismo e o simbolismo (ideias já começando a ficar saturadas em filmes do gênero por sua má utilização) entram em cena DO NADA, pra concluir com 1 hora e meia de filme, algo que no princípio se mostrou cheio de conteúdo a se desdobrar. O problema não foi a narrativa escolhida para sua conclusão, mas a abrupta MUDANÇA de narrativa quando o espectador já estava imerso em outra. Foi como se o roteirista pegasse um balde de cimento (massa/densidade) e jogasse num quadro como se fosse tinta. Não sei se essa mudança repentina foi na intenção de impactar o público, mas pra mim, só ficou estranho mesmo, acabando com a possibilidade desse filme ter se tornado realmente uma "relíquia" pro gênero. Uma pena!

Num balanço geral, não achei um filme ruim, mas eles tinham uma história com uma parte dramática tão promissora (a questão da velhice e hereditariedade), que achei frustrante tudo ter sido finalizado da forma como foi. 
É poético, aterrador, e uma grande lição, mas considerei uma falha grosseira pela forma que escolheram seu desfecho.

Mesmo com tantas pontas soltas em uma iniciativa diferenciada e expressionista, ficarei sem a boa e convencional história que o próprio filme me instigou a querer conhecer em seus primeiros atos. Talvez se o enredo tivesse demonstrado aos poucos suas reais características desde o início, seu final teria sido melhor digerido.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR