[Crítica] The Outwaters: Esse clipe não será indicado no Grammy


As cenas bizarras do VHS de Samara Morgan ("O Chamado") em formato de found footage. A diferença é que não tem ninguém ligando depois e dizendo "seven days".

"The Outwaters" é um filme de 2022 com orçamento de U$ 15.000 (igual o de "Atividade Paranormal") e que começa até bem, conseguindo pelo menos cumprir a regra nº 1 de todo found footage: manter o "por qual motivo eu ainda estou filmando tudo". 

As coisas vão se estruturando e se sustentando, com um certo êxito em passar um "realismo/amador", me lembrando muito o clássico "A Bruxa de Blair" por sinal. O diretor, roteirista, editor e ator/protagonista - Robbie Banfitch - consegue não só fazer quase tudo, mas faz quase tudo entregando belíssimas imagens com detalhes e características que parecem mesmo que irão fazer parte de um clipe musical. A fotografia é um talento a se ressaltar.

O problema em "The Outwaters" é o roteiro, que não há, e se o cinema de horror está seguindo piamente essa nova moda do surrealismo (surrealismo = filmes onde precisamos assistir entrevistas com o diretor posteriormente para conseguirmos entender o que às vezes nem ele mesmo sabe explicar),  esse, com certeza, entra pra essa lista. 

O filme é uma viagem! E o problema pra mim, nem foi a edição de cortes abruptos e a continuidade que é toda mutilada, até porque, isso faz parte do contexto found footage. A questão é que ele parece esquecer que também é um FILME, não apenas imagens aleatórias. E com isso, acaba seguindo por uma desconexão muito parecida com o visto em filmes como "O Farol", por exemplo. Tudo bem que talvez seja justamente isso que deixe o ar de "mistério" sobre o que realmente aconteceu com os personagens, mas aqui, exageraram. A partir da metade do filme até o final (e isso dá mais de 30 MINUTOS diretos que pareceram uma eternidade), vemos um monte de cenas estranhas e bizarras sendo jogadas na nossa cara.


O diretor Robbie Banfitch usa muito a questão sonora pra passar uma estranheza e consegue isso com eficácia. Mas depois que o negócio desanda na barraca, você se sente numa infinita projeção da Samara em que não há mais noção de como essas imagens ainda foram parar naqueles cartões de memória. E gravar cenas bizarras e descontextualizadas, não foram o suficiente pra passar um ar de mistério do que poderia ter acontecido com todos ali. Mesmo que hajam teorias, fica impossível não considerar tudo isso uma grande perda de tempo.

A provável classificação indicativa para maiores de 18 anos (por conter nudez explícita, "hard-gore", automutilação e cenas viscerais) chegam a soar gratuitas. E gratuidade sem o mínimo de construção contextual, pra mim acaba se tornando apenas lixo. 

Mas vale ressaltar algumas imagens que realmente são muito bem filmadas, esse talento não tem como passar despercebido. Robbie Banfitch brinca com a câmera na mão, nos levando por uma viagem vertiginosa, mesmo que não cheguemos a lugar algum. Para quem gosta de fotografia e gore, talvez ainda consiga extrair água (ou sangue) desse deserto. Do contrário, melhor nem perder seu tempo.
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★ (Ruim | Nota: 3/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR