[Crítica] O Homem Invisível (2020)


Não vi o filme de 1933 (apenas "O Homem Sem Sombra" de 2000) e não conheço a obra de H.G. Wells, mas independente disso e sem algum apego comparativo, que grata "surprise" com esse filme de Leigh Whannell. Levando o crédito pela direção e roteiro, ele conseguiu entregar um frescor da obra e posso dizer isso sem medo.

O ritmo intenso exemplifica o real significado do que seria um thriller, e o que o roteiro carrega em sua parte dramática sobre relacionamentos abusivos é o que engrossa o caldo e eleva "O Homem Invisível" a outro patamar. E não apenas por trazer essa temática, mas pela FORMA como ela é exposta e utilizada na trama. Algo que inclusive, já vimos em filmes como "Garota Exemplar" por exemplo, mas que aqui, percebemos uma liberdade criativa bem maior, algo mais "inspirado" e menos "adaptado".

Não bastasse o roteiro inteligente, a direção de Whannell consegue pegar essas boas ideias do papel e passá-las para a tela, nos imergindo em um suspense psicológico que beira o aterrador. Isso é muito bem trabalhado já no 1º e 2º ato, onde detalhes (como um canto vazio e silencioso num cômodo) já são o suficiente pra fazer a imaginação do espectador vagar junto com a mente da personagem de Moss, que desconfia que o perigo pode estar a espreita, perseguindo e vigiando de qualquer lugar ao seu redor. E só de alcançar esse clímax sem precisar recorrer a clichês (com a ajuda também da excelente atuação de sua protagonista, claro), já acaba sendo um primor pro gênero.

O 3º ato quase perde o fio por escolher deslizar em seu lado mais "frágil" da história: o sci-fi. Mesmo com um orçamento considerado baixo para o que entrega - US$ 7 milhões - é um filme que consegue se sustentar muito bem com a questão "científica", principalmente quando necessita de efeitos especiais ou de um design de produção que esbanje sofisticação. Ainda assim, é algo que poderia ter se tornado um problema se Whannell não tivesse escolhido focar no que ele tinha realmente de melhor. Que bom que o filme não se demorou nesse instante duvidoso e chegou logo em seu 4º e 5º ato para fazer o filme voltar aos trilhos, com direito a loopings nessa montanha-russa que não hesita em pegar o espectador de surpresa, o deixando zonzo em suas curvas paranoicas.

Aldis Hodge e Storm Reid em "O Homem Invisível"

Outro ponto que foi difícil passar despercebido é a trilha sonora. Não sei se o fato de ter visto no cinema (com aquele surround) fez alguma diferença nessa impressão, mas que POTÊNCIA e bom uso desse recurso! Só contribuiu em deixar o filme ainda mais denso.

Acredito que por conta de um ótimo trabalho de edição, o "timing" entre todos os desdobramentos faz com que tudo se conecte de forma perfeita e bem ritmada. Whannell não só nos serve uma "torta de climão" requintada, mas nos impacta com cenas inesperadas que poucos tiveram a coragem de fazer, tudo isso sem nenhum resquício do que poderia parecer apelativo, apenas com uma delicadeza fria e mortal. Um filmaço!
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR