[Crítica] Ninguém Vai Te Salvar: Um protesto junto à greve de roteiristas

Não sei dizer se de forma direta ou indireta esse filme toma à frente do que vem acontecendo com a greve de roteiristas em Hollywood, já que ele é praticamente inteiro sem nenhuma fala. De uma forma ou de outra, ou sendo apenas uma coincidência, tudo não deixa de soar irônico. 

Escrito e dirigido por Brian Duffield, roteirista bem experiente por sinal, e que faço questão de listar alguns de seus trabalhos: "Quarentena" (2014); "Série Divergente: Insurgente" (2015); "A Babá" (2017); "A Babá: Rainha da Morte" (2020) e "Ameaça Profunda" (2020), mas que na cadeira de diretor ainda não é tão experiente assim, dirigiu apenas a comédia "Espontânea" (2020), e agora chega nos mostrando que tem talento também na direção, além do apreço consolidado pelo gênero terror.

Em "Ninguém Vai Te Salvar" (2023) vemos um projeto leve se tornar algo que beira o grandioso. A utilização de uma premissa simples e já batida (como a temática de invasão alienígena), mas que acaba se tornando uma avalanche despretensiosa e bem divertida. 

O curioso é justamente o roteiro, com a escolha da ausência completa de diálogos durante praticamente TODA sua projeção, algo bem inusitado (eu pelo menos nunca vi um filme assim), que talvez esteja ali justamente para nos imergir na vida pacata, solitária, recatada/do lar, misteriosa e ainda assim, "good vibes" de sua personagem central, enquanto tudo começa a se desenrolar numa mistura de luta pela sobrevivência com o primeiro passo em descobrir novos ares. 

Cenário caótico em "Ninguém Vai Te Salvar"

Pra ninguém achar que estou exagerando quando digo que o filme não possui falas, existe apenas um "me perdoa?" no final, depois de muita correria em meio aos gritos agudos de Kaitlyn Dever. Nunca pensei também que um dia veria "ETs de Steven Spielberg" como vilões num filme de terror. Eles chegam com a já característica personalidade invasiva pra colocar ação no enredo, mesmo sua caracterização não sendo uma ameaça tão assustadora assim. O visual bem tradicional (que é muito bem feito) me lembrou os ETs de "MIB: Homens de Preto", e isso acaba tirando um pouco do peso que o filme teria como um terror de verdade. É um filme classificação indicativa +12, tranquilamente.

A façanha de Brian Duffield é justamente conseguir desenvolver uma história que fosse no mínimo satisfatória, mesmo sem diálogos entre seus personagens, e ele consegue. Isso não quer dizer que o filme não possua roteiro (claro), mas convenhamos que um filme estruturado dessa forma só poderia dar certo com uma direção que cooperasse e conseguisse contar uma história interessante apenas em seus atos. A forma que ele carrega isso e o que consegue nos entregar como resultado final, já é algo que, por si só, chama bastante atenção.

Os efeitos visuais e a produção no geral tem um nível que nos faz questionar do porquê não ter sido lançado nos cinemas. Mesmo sabendo que talvez sua pretensão de existir nem tenha sido por sair do que seria apenas um bom passatempo.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR