[Crítica] Um Lugar Silencioso: Mas nem tão silencioso

Esse é um filme que, com certeza, serve de exemplo sobre como uma "hype" gerada devido um bom marketing pode se tornar um canalizador de frustração, ao invés de um propulsor de contentamento por alvo inovador. 

Em "Um Lugar Silencioso" (A Quiet Place), isso já começa em seu próprio título, contendo um chamariz enganoso acerca do uso de algo bem eficaz no gênero para gerar tensão: o SILÊNCIO. E não estou falando de um silêncio por não haver diálogos numa história, mas da escolha de, pelo menos em alguns momentos, utilizar disso ao seu favor e se despir de uma roupagem "cinematográfica", passando assim um maior realismo e crueza nas cenas.


Aqui vemos uma situação pós-apocalíptica onde o barulho é o maior causador de todo o perigo, ou melhor, o que ATRAI o perigo. O que me frustrou bastante foi terem escolhido pelo paradoxal entre ter o silêncio como a proteção de seus personagens dentro do enredo, mas ao mesmo tempo quebrarem isso com uma trilha sonora e aumento repentino de som, provavelmente na intenção de causar jump scares e nos lembrar de que estamos vendo um filme de terror, não um filme do Charlie Chaplin.

Mas tirando toda essa frustração pessoal devido a hype e analisando-o como mais um filme de criatura/monstro/alienígena que invade a Terra causando alvoroço, o problema em "Um Lugar Silencioso" não é sobre o mistério acerca de perguntas sem respostas, mas a incoerência na base de toda sua história.

É um filme que dá mais certo pela sensibilidade de seu drama familiar e química de elenco do que como um terror de sobrevivência. Infelizmente o que não é nada sensível no roteiro de Bryan Woods, Scott Beck e John Krasinski é o raciocínio lógico, ou propriamente sua LOGÍSTICA. Pode parecer um mero detalhe, mas que incomodou bastante por ser praticamente o que sustentaria toda a história.

Sobre os furos de roteiro

Tudo bem os personagens terem escolhido uma enorme fazenda, cheia de assoalhos de madeira rangendo e várias possibilidades de se fazer barulho, para lá se esconderem das criaturas. Também é compreensivo o casal coabitar em pleno cenário apocalíptico, e mesmo tendo uma farmácia a sua disposição, a mulher ainda ter que se virar para dar à luz num parto normal sem um gritinho sequer. AGORA a cena em que o pai de família (interpretado pelo também diretor John Krasinski) vai com o filho até uma região onde há uma cachoeira "protetora de sons", é onde as coisas ficam praticamente impossíveis de fingir demência e continuar assistindo como se nada tivesse acontecido, já que lá é um lugar visivelmente bem mais seguro (e diria até mais "funcional") para se viver (ou no caso, SOBREVIVER). Isso acaba denotando o quão sua história tenta se sustentar na falta de lógica.


Vem aquela pergunta que não quer calar: Por que eles simplesmente não acampam próximo àquele lugar e ficam até mais protegidos pelo som da cachoeira caso apareça alguma criatura? A resposta a essa questão é bem simples: porque não haveria filme. As circunstâncias precisavam acontecer para ter tensão e dar engajamento aos vilões. O problema é que essa cena deixou um ROMBO no roteiro.

E falando nos vilões, os achei bem interessantes. A única questão é: se eles são guiados pelo som por não enxergarem, onde essas criaturas ficavam escondidas até o momento de alguém fazer um barulho e elas aparecerem? Como, durante o filme todo, nenhuma delas foi vista aleatoriamente, perdida, sem rumo, em campo aberto ou vagando na floresta?

Uma coisa é o roteiro deixar um mistério no ar sobre o porquê de muitas coisas, outra é ele não conseguir se sustentar. E esse tipo de coisa quando acontece chega a comprometer a experiência num todo.

A salvação na boa química

As atuações e o lado emocional envolvendo o relacionamento familiar é o que salva. Não apenas Emily Blunt e Krasinski, mas o elenco mirim com Noah Jupe e Millicent Simmonds dão um show à parte. Ainda assim, é um filme superestimado, apesar de possuir uma mensagem familiar muito bonita. Só é uma pena não terem conseguido associar isso ao gênero proposto (terror) de forma mais eficaz, ou quem sabe, inovadora. Mesmo sendo um filme bem produzido e com esse ponto positivo em sua parte dramática, é inevitável não perceber em seu resultado final o quão "Um Lugar Silencioso" fica beirando o genérico.
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★★ (Regular | Nota: 5/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR