[Crítica] Run Rabbit Run: O terror psicológico continua vivo

Com estreia no Festival de Cinema de Sundance em janeiro de 2023 e os direitos adquiridos pela Netflix, que o lançou em 28 de junho de 2023, "Run Rabbit Run" já começa com esse questionamento: "Cadê esse filme no meu streaming? O coelho realmente correu e se escondeu? Onde foi parar que não o encontro?"

Não sei dizer por qual motivo a Netflix simplesmente resolveu não disponibilizá-lo no Brasil, e além daqui, ainda existe uma lista de países/regiões em que ele também não foi disponibilizado: Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, países nórdicos, América Latina, Oriente Médio, Indonésia, Hong Kong, Filipinas e Taiwan. A questão é que o filme é ótimo e não se tem notícias de quando (e se) haverá esse lançamento por aqui e os motivos de todo esse despautério.


Belíssimo terror australiano dirigido por Daina Reid e escrito por Hannah Kent, que consegue usar de elementos do horror contemporâneo (principalmente quando se diz respeito aos termos "psicológico" e "elevado"), mas com uma identidade própria, sem a necessidade de apelos ao já exaustivo surrealismo ou um roteiro que se sinta pressionado a complexar uma história na tentativa de deixá-la engenhosa. O que vemos em "Run Rabbit Run" é a criatividade que flui naturalmente através da sensibilidade. Um terror que cria o seu medo (e imersão do espectador) através do desenvolvimento comportamental. Acredito que muitos se tornarão psicólogos e começarão a diagnosticar os personagens durante o filme, eu mesmo fui um desses.

A história começa com um ritmo lento, mesmo que aos poucos alguns detalhes acabam prendendo nossa atenção e gerando um clima de suspense bem interessante. 

Quando o filme nos faz acreditar que tudo será apenas sobre uma garotinha "birrenta" e perturbada (que inclusive, é interpretada de forma assustadora pela talentosíssima atriz mirim Lily LaTorre), da metade para seu fim é que começamos realmente a descobrir suas pretensões e o filme passa a flertar com um terror que me lembrou bastante "O Babadook", mesmo que algumas de suas técnicas ainda sejam bem distintas.

Para o público que procura um terror com jump scares e um nível de tensão elevado, esse talvez seja o filme errado, mas dentro do que ele se propõe como terror e a forma sutil como isso acontece, é realmente algo bem surpreendente e eficaz. A imersão é garantida (algo que nem sempre acontece no gênero) e sua atmosfera vai acabar gerando um certo desconforto.

O título original "Run Rabbit Run" é uma metáfora bem inteligente que se encaixa perfeitamente em alguns momentos, principalmente no último ato, após seu plot twist ser revelado. É um filme que consegue retratar a maternidade, traumas de infância e luto, ao mesmo tempo que todo seu desenvolvimento caminha para algo que no princípio não parecia ser tão estarrecedor. 

Lily LaTorre e Sarah Snook em cena de "Run Rabbit Run"

Não vou nem comentar sobre a fotografia com paisagens deslumbrantes e da trilha sonora afiada que possui um papel fundamental. Sarah Snook (de "Succession" e "Jessabelle: O Passado Nunca Morre") está muito bem, mas o que Elisabeth Moss deve ter ficado pissed off (pistola) quando viu o resultado final desse filme e que ela perdeu essa oportunidade por problemas de agenda, isso deve ficar para os extras. Da mesma forma a Netflix, que escondeu esse coelho de nós e acabou não lançando esse filme por aqui. Esse é um mistério que ainda pretendo entender.
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★★★★ (Ótimo | 8/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR