[Crítica] Speak No Evil (2022): O elevado suspense dinamarquês

Não sei o porquê dessa desconfiança com o gênero suspense, como se ele não tivesse seu público ou não fosse tão atrativo. Ultimamente muitos filmes vêm sendo vendidos como "terror", mesmo com sua proposta sendo explicitamente um suspense. 

E se a nova vertente do "horror psicológico" ainda está em alta, não é por isso que necessariamente TODOS os filmes que utilizam desse lado mais psicológico sejam desse subgênero. O "suspense psicológico" também existe, e há um bom tempo já.

É inevitável falar de "Speak No Evil" sem essa introdução sobre a diferença entre o suspense e o terror. Querendo ou não, ele acaba trazendo um certo frescor pro gênero e isso está atrelado justamente à sua característica dentro do "psicológico" e a forma como consegue conduzir o seu suspense de forma gradativa e refinada. 

O filme não apenas traz o inovador, como o executa de forma eficaz, elevando-o assim até certo grau. Não que dê pra considerá-lo como algo intenso, mas a forma inteligente como a história nos apresenta os seus perigos aos poucos...é bem interessante. 

Se existe algo de assustador aqui é como o diretor dinamarquês Christian Tafdrup consegue aproximar o espectador de seus personagens, usando de situações simples e por vezes constrangedoras do cotidiano, escancarando a reflexão e necessidade de algo que todos nós precisamos aprender um dia (além de socializar e fazer novos amigos): o de dizer "NÃO". 

O roteiro coescrito por ele e por seu irmão Mads Tafdrup é todo arquitetado nessas circunstâncias desconfortáveis envolvendo o comportamento de pessoas diferentes e casuais, em meio aos desafios e estranhezas do relacionamento interpessoal. 


Por incrível que pareça, "Speak No Evil" consegue tornar isso ameaçador, fazendo seus protagonistas reféns de sua própria educação, enquanto acompanhamos seus limites pessoais sendo invadidos e quebrados, em contraposição às épocas que isso acontece (ou não) entre seus personagens: na fase da infância ou já na adulta.


A direção, juntamente do roteiro, consegue construir tudo isso de forma sutil, muitas vezes utilizando do implícito para nos surpreender. É um filme que possui uma mensagem forte, mesmo que fique algumas pontas soltas e tudo se mantenha dentro de uma vaga simplicidade. Christian Tafdrup é um diretor que deve se sair muito bem no drama também, não conheço seus outros trabalhos, mas nesse suspense ele conseguiu expressar algo bem elevado.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)

*Visto em áudio original: inglês, dinamarquês e holandês | Legenda: PT-BR