[Crítica] You'll Never Find Me (2023): O suspense em sua pura essência


Dessa vez a Shudder acertou, hein?! Temos aqui o que seria a pura essência do suspense e de suas apreensões. "You'll Never Find Me" ("Você Nunca Vai Me Encontrar" - traduzindo ao pé da letra) é um suspense psicológico australiano de 2023, dirigido por Indianna Bell e Josiah Allen, que consegue pegar uma simples limonada e fazer um mousse de limão. São muitos elementos trabalhando juntos para que tudo dê certo de forma milimétrica, mas é inevitável não ressaltar uma peça-chave que passa a ser praticamente um terceiro personagem em todo seu desenrolar de 1 hora e meia: o ROTEIRO escrito pela também diretora Indianna Bell.

Para vocês entenderem mais ou menos o feito do script, a história se passa inteiramente dentro de um trailer durante uma madrugada chuvosa, envolvendo basicamente dois personagens estranhos e comuns. E como fazer isso durar uma hora e meia sem que em nenhum momento dê sono no espectador, é o que entra primeiramente em toda essa ressalva. 

Sobre a ambientação, a última vez que senti algo parecido foi com o também excepcional "Identidade" de 2003, a diferença é que aqui tudo se desenvolve a partir de detalhes bem mais simples, mas que da mesma forma consegue nos fisgar e nos deixar duvidando da intenção de cada movimento em tela, num vai e vem psicológico, intuitivo, paranoico e inteligente.

Óbvio que a direção ajuda bastante, mas as atuações também possuem um peso enorme aqui e estão em sua concentração máxima, num jogo de flerte em que o espectador é levado a reparar até numa "levantada de sobrancelha" diferente pra descobrir quem tem a "culpa no cartório", ou que mistério cada um ali está guardando. Algo muito parecido é visto no recente "Sem Saída" (No Exit) de 2022, mas aqui, os detalhes fazem MUITA diferença e estamos falando de um ambiente bem pequeno, que o roteiro faz questão de perambular por cada canto, fazendo-o parecer enorme.


Faltaram poucos detalhes para que esse exemplar chegasse à perfeição (dentro do que ele se propõe e com os recursos que tinha) e que pudesse ser considerado por mim uma obra-prima do suspense. Acho que ter trabalhado com o básico durante muito tempo, mesmo que de forma primorosa, o fez esquecer desse "algo a mais", característico daquilo que se torna único. 

E assim como o também recente (e muito bom) "Até a Morte" (Till Death) de 2021, esse seja um filme que tenha o seu grande efeito apenas na primeira vez que o assistimos. Por isso, talvez não seja algo atrativo para ficarmos repetindo a dose. Claro que isso não o diminui como obra, e se tratando do que o cinema propõe a gerar em seu espectador, as emoções, a mensagem, a reflexão, a crítica...esse, com certeza, consegue nos apresentar grandes proporções e consequências através do suspense em sua forma mais genuína.
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR