[Crítica] Yellowjackets: A força de um grande time


Achei interessante a Netflix ter traduzido o título do 4º episódio na 1ª temporada - "Bear Down" - para "Aguentem firme", porque a série começa a ficar boa só a partir de seu 5º episódio, onde realmente passamos a não desgrudar mais os olhos da tela. Então, é necessário ter um pouco de paciência com "Yellowjackets", já que seu ritmo é arrastado nos quatro primeiros episódios (com 1 hora de duração cada), onde nem a queda de um avião é capaz de prender nossa atenção.
 
A narrativa passado-presente é um formato que dá muito certo, principalmente em histórias onde o suspense e os seus personagens é o que deixa as coisas mais interessantes. Após o acontecimento central - a queda do avião com um time de futebol feminino no meio do nada -, tudo começa a se desenrolar de forma alternativa, entre o período da tragédia na adolescência (1996) e 25 anos depois, na fase adulta (2021). Com essa estrutura de desenvolvimento, os roteiristas conseguem brincar com o mistério e produzir motivos mais do que suficientes para nos manter interessados. 

Contendo 10 episódios em sua 1ª temporada, eles mostram o que querem mostrar, apenas na hora que querem mostrar, e querendo ou não, é isso que vai nos mostrar...(ok, parei) que vai nos FISGAR aos poucos em seu fator sobrevivência, do passado (adolescência) e traumas mal resolvidos do presente (fase adulta). 

Subtramas estão ali para ficarmos sabendo que tudo está de certa forma alheio, e o que realmente interessa acaba ficando para depois. Só acho que esqueceram de fechar melhor sua primeira temporada, mesmo que tudo tenha sido pensado para se ter outras. Quem assistiu sem ter a segunda já disponível, deve ter ficado bem frustrado. Tudo fica no ar (menos o avião, ele não) e por menor que pudesse ser sua conclusão, ficamos apenas com um gancho para sua continuidade. (Um detalhe: a 1ª temporada de "Yellowjackets" foi lançada entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. A 2ª temporada foi chegar só em MARÇO de 2023. Fico imaginando o ódio...)

Voltando a falar de suas qualidades (até porque, eu assisti as duas temporadas de uma só vez), fica difícil não comentar sobre o casting, não só pela interessante semelhança entre as atrizes que interpretam o mesmo personagem, uma na adolescência e outra na fase adulta, mas também sua eficácia. 

Acredito que esse fator na escolha do elenco é levado bem mais a sério quando se trata de uma série do que em um filme, afinal, uma série possui um período de duração maior, obviamente, e o carisma do elenco é uma das coisas que gera toda essa ligação entre a história e o espectador. Os temas dramáticos abordados são bem fortes e todos carregam isso de forma bem acima da média. Impressiona bastante! Provavelmente também por um ótimo trabalho de direção. 


Quem rouba a cena é Christina Ricci com sua Misty (adulta), um contraponto da diversão. Ela tá impagável. Não sei dizer se achei isso por já ter conhecido uma "Misty" (não tão traumatizada como na série, acredito), mas a questão é que ela conseguiu dar algo a mais, além dos bons risos de alívio cômico/traumático, cheio de caras e bocas.

"Yellowjackets" consegue se desenvolver de forma bem satisfatória após um início morno, nos envolver em seu vai e vem e fazer com que tudo se transforme num bom entretenimento. Um thriller recheado de possibilidades, que me deixou bem ansioso por seus futuros desdobramentos.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR


O embalo de sua 2ª temporada

A cor do novo uniforme é roxo na 2ª temporada de "Yellowjackets"

Agora que sua história está bem desenvolvida, as coisas começam a ficar bem mais intensas e intrigantes em sua 2ª temporada. Permanecendo com o mesmo estilo de narrativa passado-presente, a série se aprofunda ainda mais em seus traumas, revelando alguns pontos que farão parte de praticamente todos seus novos 9 episódios. Outros personagens secundários entram em cena, e quanto mais os problemas atuais se agravam, mais compreendemos os motivos.

Enquanto a situação extrema de sobrevivência se mostra mais difícil e foge do controle em 1996, mais ficamos numa expectativa de saber quem sobreviveu e pode aparecer no presente. É justamente a continuidade desse paralelo que deixa a série interessante, com várias questões ainda a serem reveladas em ambos períodos.

O equilíbrio entre o drama, o suspense psicológico, o horror e elementos do sobrenatural, continua afiado, sem abandonar qualquer um desses lados, mesmo que seu gênero se mantenha no suspense. O elenco continua acompanhando os níveis em que a história leva seus personagens, com momentos de destaque para as atrizes Sophie Nélisse e Sammi Hanratty, que interpretam Shauna e Misty adolescentes, respectivamente. Mesmo sendo atrizes com idade entre 20 - 30 anos, é bem notável o que elas entregam. Na verdade, todo o elenco de "Yellowjackets" está de parabéns! Volto a ressaltar a questão do casting. Grande time.

Quanto mais assistimos e nos aprofundamos em sua história, mais conseguimos enxergar o quanto seus personagens são complexos e os possíveis rumos que eles podem tomar. Sinal de um ótimo desenvolvimento, recheado com personalidades variadas e interessantes, que levantam temas muito além do comportamento humano em situações extremas. 

Uma 3ª temporada está a caminho (prevista para 2025) e algo me diz que isso vai um pouco mais longe. Estarei ansiosamente esperando.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR


Perdas e ganhos

Se a distância de tempo entre o lançamento da 1ª e da 2ª temporada foi grande (janeiro/2022 – maio/2023, pouco mais de um ano), o tempo de espera para a 3ª foi bem maior. Continuamos a história das yellowjackets quase dois anos depois, com seu lançamento finalizado em abril de 2025. Essa incerteza de ser ou não confirmada para a próxima temporada e outros possíveis contratempos, justificam alguns probleminhas que passaram a ser bem visíveis agora, e que começaram a incomodar um pouco.

Se uma das coisas que me chamou atenção na série foi o seu casting, agora sobreveio um problema. Porque uma das primeiras coisas que iremos notar nessa 3ª temporada é a “estranha presença” de personagens secundários entre o grupo de jovens na floresta. Isso não chega a atrapalhar, mas essa mudança de atrizes (que talvez não tiveram tempo de confirmar um espaço na agenda pra voltarem às gravações) acaba sendo algo mais brusco dessa vez. 

Não só a questão de conseguir manter o mesmo elenco, mas também de passar um pouco mais de verossimilidade em pequenos pontos do roteiro, onde a necessidade de construir um novo acampamento acaba ficando além do aceitável para um grupo de adolescentes buscando a sobrevivência. 
Simplesmente DO NADA elas viraram expert em construir ocas, quando, na verdade, os buracos do que restou do avião teria dado menos trabalho. 

O roteiro se mantém criativo e intrigante, mesmo que essa necessidade de trazer impactos que nos faça querer continuar assistindo, acabe “matando” a energia que a história tenta manter de pé em meio a tantos perrengues. Isso resulta em decisões que, ao meu ver, foram totalmente desnecessárias. Por outro lado, algumas pontas soltas são amarradas aqui, que inclusive, uma delas tinha sido deixada de lado desde o primeiro episódio da primeira temporada.

Talvez muitos torçam pela entrada (de vez) do sobrenatural na história, saindo do que seria implícito. Mas acredito que esse equilíbrio com o thriller e o mistério será uma característica permanente na série. Com referências ao giallo, continuamos a ver personagens complexos, mentalmente instáveis, se desdobrando numa linha tênue entre o que seria mostrar demais, ou manter o espectador em posição analítica. Tudo sem cair em redundância.

Com a quarta temporada já confirmada, espero que a qualidade do apresentado até agora seja mantida. Afinal, conteúdo e possibilidades existem. Entre escolhas certas e erradas, altos e baixos, o importante é esse time feminino de futebol conseguir finalizar o campeonato com o mínimo de jogadoras na linha, independente de seu cruel estado psicológico.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR


"No Return" - Alanis Morissette