Tá explicado por que o próprio Stephen King se manifestou em prol do lançamento dessa adaptação que havia sido esquecida pela Warner no porão da Mansão Marsten. Não bastasse a questão da pandemia que gerou atrasos na produção, que desde 2019 já estava em andamento, ficamos nesse mistério sem entender qual foi a controvérsia interna que fez “Salem’s Lot” ter sua estreia adiada tantas vezes, de um lançamento previsto para 2022, que veio acontecer só agora em 2024 (e que bom que PELO MENOS aconteceu!), mesmo que direto para streaming.
A questão é que o filme é ótimo e poderia ter dado um lucro muito bom caso tivesse passado pelos cinemas. Algo que, só pelo trailer, dá pra sentir que o material que eles deixaram empoeirando tanto tempo não era nada descartável.
Com James Wan como produtor e Gary Dauberman (roteirista de “Annabelle”, “A Freira”, “It: A Coisa” e “It: Capítulo Dois”) assumindo a cadeira de direção além do roteiro, vemos o "selo de Pennywise” dando certo mais uma vez enquanto a pequena Jerusalem’s Lot começa a ficar menos pacata e mais movimentada.
O roteiro de Dauberman consegue reunir os principais pontos do livro, mesclar a ordem cronológica dos acontecimentos e fechar uma história bem redonda para as telas, de ritmo frenético e sem tempo para gordurinhas em sua 1 hora e 53 minutos. Coisa que King não conseguiu nesse 2º livro de sua carreira, com 460 páginas que poderiam tranquilamente ter sido umas 300, e assim como a obra que o inspirou - "Drácula" de Bram Stoker – o livro “Salem” fica numa construção rasa, dando voltas por seus habitantes, num romance enroscado de Ben Mears com Susan Norton, para culminar naquilo que todos estavam esperando: uma cidade sitiada por vampiros.
O que para um livro foi pouco, para um filme foi mais do que suficiente. Recheado de bons jump scares e esteticamente bonito, criativo e nostálgico, temos nessa adaptação de 2024 a definição do que seria a "fórmula de vampiro" feita para divertir, me fazendo lembrar bastante de filmes oitentistas, como “A Hora do Espanto” (1985) e “Os Garotos Perdidos” (1987). A diferença é que aqui, apesar das estacas, crucifixos e paradigmas, as coisas foram feitas para assustar.
Que bom que esse tipo de cinema “pipoca” ainda dá certo. Em meio a tantas forçações de barra que vêm sendo feitas no gênero, vez ou outra ainda temos a boa e velha diversão. Mesmo que os vampiros tenham sugado tanto sangue que ficou faltando para jorrar na tela, os divertidos sustos acabam compensando. O que o recente e também ótimo "Abigail" (2024) trouxe de horror/gore, aqui temos uma história com a proposta mais sombria.
Outro ponto assertivo foi a caracterização dos vampiros, que no filme de Tobe Hooper de 1979 ficou bem ruim (independente de época). Barlow, além de FALAR dessa vez, ficou bem impressionante e ameaçador. O trabalho de Gary Dauberman na direção é animador, com cenas bem feitas e estilosas, deixando esse gostinho de quero mais. Enfim, o cenário foi preparado, quem sabe não haja motivos para retornar a Jerusalem’s Lot. Só espero que se houver uma sequência, Stephen King não precise aparecer na janela de alguém para cobrar o lançamento daquilo que quase havia sido esquecido no fundo de um baú.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR