Fiquei feliz quando soube que uma das atrizes que eu mais gosto estaria em um filme de terror. Envolvida mais em projetos de suspense, dessa vez Halle Berry parte como "scream queen" em algo mais sombrio. Mesmo que o renomado diretor Alexandre Aja tenha me decepcionado com seu “Predadores Assassinos” de 2019, ele ainda possui no currículo o remake de “Quadrilha de Sádicos”, intitulado aqui no Brasil como “Viagem Maldita” (2006), além de outras produções que sempre me lembram de estar atento aos seus novos projetos.
Partindo para o sobrenatural, o roteiro escrito por Kevin Coughlin e Ryan Grassby (ambos sem muitos filmes na carreira, mas que já podem ficar satisfeitos pelo que desenvolveram aqui) consegue se diferenciar utilizando do “terror de regras”, onde a tensão e o medo vão muito além da ameaça que está à espreita, mas em como os personagens podem atrair essa ameaça caso quebrem as regras estabelecidas na história.
Logo de início, o que me chamou bastante atenção foi a narrativa folclórica que o filme nos envolve, utilizando de uma casa no meio da floresta como base não apenas da história, mas também como "pics" de proteção e sobrevivência num cenário apocalíptico.
A direção de Aja consegue criar momentos assustadores, sem se apegar necessariamente à escuridão, mas trazendo o horror também para a luz do dia. Não acredito que o fato de duas crianças estarem envolvidas na trama foi motivo para as coisas serem amenizadas, mesmo que os responsáveis pelos atores mirins possam ter colocado alguns limites no contrato, com cláusulas indenizatórias sobre possíveis "traumas de infância". A questão é que no quesito terror, “Não Solte!” poderia ter sido mais intenso já que abre essa possibilidade em alguns momentos. O lado psicológico e dramático nas cenas dentro da casa também são importantes, mas o mal que ficou do lado de fora não poderia ter sido deixado tão de lado.
Ainda assim, é um exemplar muito bom pro gênero, que consegue transmitir uma mensagem bem forte sobre os limites das crenças e tradições em uma família e o que de fato acaba nos protegendo de todo mal que está lá fora.
Um “cordão de três dobras” estabelecido como regra de sobrevivência que se limita ao alcance da corda, com a liberdade condicional ligada ao amor e a necessidade de buscar alimento fora desse alcance. Duas verdades (e realidades) paralelas que se opõem como inimigas dentro de algo onde "fé x razão" são movidas pelo medo do desconhecido. Um desequilíbrio insensato por ambas as direções, que acaba sendo o real perigo e o pior dos males: a ignorância.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR