“É uma sensação esquisita né? Sentir alívio por um atestado de óbito” – Essa frase, que contém no trailer, foi o que me veio na cabeça quando me perguntaram o que eu tinha achado do filme logo após sair da sessão. Porque, querendo ou não, me senti mal por considerar “Ainda Estou Aqui” (2024) uma obra-prima do cinema brasileiro. Uma sensação esquisita. Mas ainda assim, uma obra-prima, claro.
Nasci no mesmo ano em que foi promulgada a Constituição Federal – 1988. Mesmo não tendo vivido o período da ditadura militar, é impossível não ser transportado para esse período e se emocionar com essa história.
“Ainda Estou Aqui” fala de tantas coisas, sobre tantas gerações que parecem se interligar, fazendo parte de um mesmo país. Sem precisar citar os tempos atuais que vivemos, ou tentar entender que tipo de alinhamento aconteceu entre o livro de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, e esse marco para o cinema nacional agora em 2024, pelas mãos de Walter Salles.
A questão meus queridos é que realmente o filme impressiona. Acredito que tenha sido um conjunto de fatores para chegar a isso, afinal, o cinema é um conjunto de fatores, mas aqui, parece que o Brasil foi retratado com tanta maestria e perfeição, em detalhes tão simples. Desde o futebol até o vôlei de praia, Fernanda Torres como Eunice Paiva parecendo encontrar descanso no mar com o Pão de Açúcar ao fundo, enquanto vemos um período amargo da nossa história sendo pintado milímetro por milímetro nas telas do cinema.
Sua Eunice e a direção sensível de Walter conseguem fazer o espectador entrar na história ao ponto de ficar com um nó na garganta, tendo que engolir o mesmo grito de indignação, preocupação e dor que ela segura dentro de si por boa parte do filme, enquanto finge que está tudo bem e luta diante de tantas incertezas para conseguir simplesmente continuar um livro que ficou com páginas em branco. No fim de tudo, o que gritou nas telas foi a força de uma mulher que, assim como muitas brasileiras, ainda estão aqui.
Então, voltando para a frase que citei no início, saí com essa sensação que é até difícil dizer “eu fiquei feliz por esse filme e senti orgulho do meu país”. Talvez porque, eu não teria a mesma força de sorrir e me alegrar como a Eunice teve numa época como aquela. Mas justamente por isso, e pela necessidade dessa história ser contada nos dias atuais, podemos nos orgulhar, sorrir e dizer: “eu fiquei feliz por esse filme e senti orgulho do meu país”.
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★★★★★ (Obra-prima | Nota: 10/10)