Nessa divertida releitura da clássica história da Cinderela, conseguimos ter sensações extremas de um ponto de vista que subverte alguns valores, mesmo que outros ainda estejam ali, bem claros. “The Ugly Stepsister” (“A Enteada Feia” em tradução livre, já que “stepsister” poderia significar também “meia-irmã”, algo que, dentro do contexto do filme, seria mais correto o termo “enteada” por serem irmãs sem laço algum de sangue) é um filme norueguês de body horror que estreou em janeiro de 2025 no Festival de Sundance e chegou alguns meses depois na plataforma Shudder.
A diretora e roteirista Emilie Blichfeldt consegue utilizar de sua liberdade criativa pra nos indicar muitas questões envolvendo as mulheres e de algumas exigências que a sociedade colocava sobre elas, numa época onde ainda se acreditava em príncipes encantados e de casamentos arranjados como estabilidade financeira, de segurança, e de finalmente ter a oportunidade de conquistar a aguardada casa própria sem precisar girar o pião.
Agora, imaginem tal oportunismo e tamanha dependência em cima de um bom partido se voltando contra a mulher que, além de ter nascido pobre, também nasceu feia. É hilário alguns momentos que o filme nos leva ao absurdo do que a personagem é capaz de fazer para conseguir ficar bonita para seu príncipe, onde o botox e a harmonização facial ainda não tinha chegado e o passe de mágica tinha ficado apenas para a Cinderela safada e fornicadora.
Sim, podemos dizer que, além da pitada de um bom senso de humor ácido e do padrão de feiura sendo atualizado com sucesso, “The Ugly Stepsister” (2025) é um filme para maiores de 18 anos. A diretora resolveu nos chocar de algumas formas irreverentes (e que interessante!) com algumas cenas desenvolvendo a temática da sexualidade pré-nupcial. Mas o que choca mesmo é a cena final, onde, sem dúvidas, irá embrulhar o estômago de qualquer um já acostumado a coisas extremamente nojentas. Pra quem assistiu no cinema e comprou pipoca, o saco vazio no final da sessão com certeza deve ter servido para outra coisa.
O “conto de fadas” ter ficado de fundo já era de se esperar, justamente pro filme seguir sua real proposta. Porém, mesmo que Emilie Blichfeldt tenha conseguido brilhantemente equilibrar o humor ácido (que talvez passará despercebido para alguns) e o body horror, um problema acabou se sobressaltando e não foi apenas uma questão de equilíbrio, mas de necessidade. Sua parte dramática não poderia ter sido deixada de lado, pois seria o elo ideal para concluir a história de sua personagem, e com isso, elevar o filme a um outro patamar.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)
*Visto em áudio original: Norueguês e Polonês | Legenda: PT-BR