[Crítica] Eden (2024): Que ironia do destino


Como eu assisti sem saber que a história é baseada em fatos reais, uma das coisas mais surpreendentes foi chegar ao final e ver que toda aquela doideira, de certa forma, foi baseada em fatos reais. “Éden” (2024) é um filme voltado para as questões dramáticas e humanas sobre sobrevivência (e convivência), com um cenário mundial desfavorável em meio à guerra e uma crise econômica que nos faz lembrar bastante de uma fatídica atualidade. 

Dirigido pelo renomado Ron Howard e um roteiro de Noah Pink, o filme poderia ser mais uma história sobre pessoas tentando sobreviver numa ilha deserta se não trouxesse, em contrapartida, a excentricidade de seus personagens e a forma irônica de transmitir sua mensagem, fazendo sua reflexão sobre o ser humano que é levado pela presunção de querer escrever sua própria história e fundar seus próprios preceitos morais, tentando instituir uma nova forma de salvar a humanidade do colapso, mas caindo em sua própria hipocrisia.

Chega a gerar risos em alguns momentos. Nesse sentido, o roteiro é genial pela forma que expressa sua crítica social/política, afinal, se o problema está no ser humano, por que temos a necessidade de estabelecer relacionamentos, se comunicar e negociar uns com os outros em prol da nossa existência? Quais os limites entre respeito, altruísmo, egoísmo e autopreservação para que a convivência seja saudável em meio a tanta escassez de recursos?

“Éden” (2024) vai muito além das entrelinhas, e nisso consegue se validar. Mesmo que tenha perdido muito tempo em pontos descartáveis à história, desperdiçado oportunidades em diálogos mornos e arrastado um pouco seu ritmo. O filme consegue nos cativar pelo comportamento inusitado de seus personagens, atuações acima da média e por seu roteiro carregado de metáfora. 

A última vez que vi algo parecido foi no ótimo “Não Olhe para Cima” (2021), que também me gerou bons risos. Em "Éden" (2024) o humor não é tão aproveitado, o thriller inexistente, mas a mensagem relevante e reflexiva é o que o torna ambicioso e alvo de possíveis indicações, mesmo que toda opinião sobre ele fuja de qualquer polarização política.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR