Não queria demonstrar tom de surpresa, porque isso pode parecer que eu subestimo as produções nacionais, mas mediante tanta falta de investimento e valorização da nossa própria cultura, geralmente espero outra coisa. Mas assim como o suspense nacional O Juízo (2019), essa série (lançada pela Netflix em 2021) acabou me surpreendendo a um nível que chegou a me levar por momentos de êxtase. Só a cena de seu 2º episódio, com a personagem cantando "Sangue Latino", já resume muito bem o porquê de tudo isso.
Roteiro, direção, edição, trilha sonora oportuna e de bom gosto, fotografia minuciosa, construção do suspense e de toda a homenagem que faz de forma elegante, inteligente e original, enchendo nossos olhos desavisados com essa releitura de imaginação fértil sobre o folclore brasileiro.
Totalizando 7 episódios de ritmo intenso, com um desenvolvimento enxuto e sem momentos de "encher linguiça". Seus 5 primeiros episódios são praticamente impecáveis; penúltimo e último possuem seus deslizes nos momentos que tentam explicar demais algo que o espectador já está vendo, parecendo duvidar da capacidade de ligarmos os pontos e entendermos a situação, mas esses erros acabam se tornando insignificantes perante todo o resto.
A caracterização urbana dos personagens ganham originalidade pela assertividade minimalista. Roteiro possui sacadas inteligentes, com diálogos significativos e que contribuem ainda mais ao mistério. Alessandra Negrini (interpretando a Cuca) rouba a cena, mas quem me deu arrepios foi Fábio Lago como Curupira nos momentos finais. Não sei nem se posso chamar aquilo de atuação, talvez seria mais uma performance. Arrebatador!
Temos o "live-action" das lendas brasileiras com "Cidade Invisível" |
O Brasil está começando a ter oportunidade de revelar o seu potencial. Só esperamos que haja também investimento e as produções nacionais continuem em um bom momento, mesmo relutando com uma realidade que por vezes nos desanime. Porém, o que muitos não sabem, é que nem sempre o brasileiro dá "um jeitinho", mas consegue realizar obras com maestria e resiliência, nessa força de "ir pra cima e não desistir" que também faz parte do nosso folclore.
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)