[Crítica] The Dark and the Wicked: Não passarás nem sinal de wi-fi


Podemos falar aqui de um baita filme de terror? Podemos. Mas antes de começar a falar sobre o que interessa, o que saltou aos olhos foi o capricho com a parte técnica. Que filme lindo! Takes minimalistas de uma fazenda que te acolhe num entardecer bucólico e ensolarado, para depois te inserir numa escuridão opressora de um local rústico, cheio de rangeres num assoalho de madeira e uivos ecoando às 3 horas da madrugada. E como um cenário familiar e com certa
particularidade tem poder de mudar muita coisa não é? 

"The Dark and the Wicked" (2020) - "A Escuridão e o Perverso" - só não será considerado uma obra-prima do terror por mim porque ele acaba pecando em algumas coisas que me soaram mais como uma falha do que algo que eu simplesmente não tenha gostado da ideia. 

O roteiro é raso no desenvolvimento de seus personagens (eu pelo menos não consegui gerar nenhum vínculo emocional com eles), mesmo as atuações estando bem acima da média. Talvez se houvesse algum momento de alívio cômico por exemplo, e soubessem trabalhar isso junto da melancolia, teria ajudado a estabelecer esse vínculo. A questão é que dá para perceber claramente que essa falta de profundidade nos personagens faz parte de sua proposta.

A escolha de uma atmosfera fria, tensa e aterradora DO COMEÇO AO FIM. Em "The Dark and the Wicked" não há muito tempo para perder com o drama. Tudo o que sentimos é tensão (e muita tensão!). Nisso a direção de Bryan Bertino é incessante em sua 1 hora e 35 minutos, sem necessidade de muitos jump scares baratos (mesmo que os poucos que tem, são de tirar a alma do corpo), ele consegue dar originalidade com a imersão do espectador no que seria o mais puro e profundo medo.

MEDO que é
 construído de forma eficaz, onde tudo no cenário coopera para intensificar isso como nunca visto antes. Bertino provavelmente aprendeu bem a lição de casa e é visível suas referências. Assim como a atmosfera crua e sufocante em "Hereditário" (2018) e os vultos silenciosos que aparecem ao fundo na série "A Maldição da Residência Hill" (2018), ele consegue assustar muita gente já habituada com o gênero, perturbando a mente de quem apagou a luz antes de dormir, mas acordou no outro dia com ela acesa e ninguém em casa. 

Não tenho dúvidas que "The Dark and the Wicked" é o tipo de filme que pode tirar o sono de muitos, e a tal falta de vínculo do espectador com os personagens, na verdade é recompensado pela conexão com o que está ao REDOR deles (seja físico ou não). A fazenda e os detalhes de tom amador nos cômodos, é o que acaba estabelecendo esse vínculo e o LUGAR passa a ser o que aprofunda as coisas

Uma cadeira se mexendo sozinha em cena de "The Dark and the Wicked"

Diante de calafrios com rosnados ao pé do ouvido, infelizmente essa experiência cinematográfica passou despercebida e nem teve lançamento nos cinemas por aqui, mas com certeza, entrou para minha lista dos 10 melhores filmes de terror de todos os tempos. Mesmo com seus detalhes mínimos e pela "descaracterização" mitológica (ou religiosa) de um vilão que já possui suas regras pré-estabelecidas. A moral da história é que depois de tudo, o demônio além de não ser vegano, pode ser um "Michael Myers" na 1° pessoa, caso você more em fazenda com cabras.
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★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR