[Crítica] O Menu: E a acidez do requinte


Por incrível que pareça, o grande problema em "O Menu" (2022) está em sua premissa criativa. Ao mesmo tempo que esse seja o seu grande ponto alto, é o que acaba denunciando sua falta de ousadia (e não estou falando de pratos gourmet aqui). Isso pode até parecer uma hype frustrada, mas é estritamente o que senti enquanto assistia, podendo até ressaltar que o trailer não entrega quase nada do filme. O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy traz um sabor diferente, porém, isso não só impressiona, como nos instiga a querermos mais, mesmo que esse "mais" não venha.

A direção de Mark Mylod faz o básico de forma eficaz. O que não fica no básico são as atuações, e pra quem achava que encontraria uma Anya Taylor-Joy em seu "modo automático" como o visto em "O Homem do Norte" (2022) por exemplo, se enganou. Acho que depois de "Fragmentado" (2016), ela apresenta uma de suas melhores atuações aqui. Ralph Fiennes sempre mereceu um papel de destaque como esse, mesmo que agora seja quase impossível não esperar que ele saque uma varinha das vestes e lance um "Avada Kedavra" em alguém.

Um dos pratos sofisticados inclusos em "O Menu"

O filme possui uma história bem simples na verdade, com uma mensagem emblemática/satírica e atos bem construídos num bom "timing". Tudo é bem gradativo, chegando ao quase arrastado, mas que possui alguns escapes que nos mantém atentos à continuidade da história. A elegância do design de produção nos insere em seu requinte, e o desenvolvimento de seus personagens é também algo que merece ressalvas. O humor (mesmo que presente em uma ou duas cenas apenas) é desnecessário à ocasião. Tudo ali já seria bem interessante sem precisar de mais essa característica.

Anya Taylor-Joy pedindo pra falar com o gerente em "O Menu"

Senti falta de uma boa trilha sonora que viesse a calhar e deixasse o clima do jantar mais agradável (pelo menos a priore). A música poderia contribuir nos momentos em que o enredo tenta chocar o espectador. Eu disse "tenta", porque mesmo com suas qualidades, o filme acaba caindo em sua previsibilidade. Não cheguei a tê-lo como um suspense que não utilizasse bem de sua ideia, mas como foi dito no início, "O Menu" acaba refém de sua própria criatividade e passa a se tornar algo insaciável por abrir várias possibilidades dentro de sua história. Possibilidades que não vieram.

Elenco tenso em "O Menu" após o motorista cancelar a corrida

Talvez o foco estava apenas na metáfora de seu enredo e isso acabou o restringindo em outros sentidos. Mesmo assim, é um bom filme. Longe de ser perfeito (uma ironia por conta de sua própria mensagem) ou de atingir todo seu potencial. Fora a imagem que acaba passando, ficando até um tanto desmotivador eu diria, para quem gostaria ou já esteja cursando gastronomia.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR