[Crítica] Pânico 6: A abertura que surpreende mais que o final

"Nova York. Novas regras."

Por incrível que pareça, acho que essa foi a primeira vez que um filme conseguiu surpreender mais com sua cena de abertura do que em seu tradicional plot twist no final. Eu pelo menos não lembro de nenhum filme do gênero que conseguiu fazer isso. Não sei se a intenção dos roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick foi realmente essa (acredito que tanto o início como o fim, eram pra ser impactantes), mas "Pânico 6" realmente conseguiu ter o seu ápice e mostrar o que tinha de melhor em sua cena de abertura, ousando com uma genial subversão que marcou o filme e que deve ter deixado muita gente de queixo caído.


Assim como em seu antecessor "Pânico 5", que mesmo tendo o Ghostface mais violento de todos e ter mantido a qualidade com a nostalgia no fanservice/homenagens à franquia, mas que acabou entregando um desfecho com ar de redundância e superficialidade, aqui, vemos tudo isso de certa forma se repetir. 

É um filme com pontos fracos e fortes assim como todos os outros da franquia (com exceção do primeiro, que possui mais pontos fortes). Tenho esse sexto filme como algo bem similar ao que achei do quinto. Ambos são muito bons! (para o alívio dos fãs) e conseguiram manter uma qualidade regular presente nos filmes antigos. Isso por si só, já foi um grande feito, afinal, trazer essa franquia tão amada de volta de forma respeitosa, atual e com pontos que agregaram sem descaracterizar ou fugir muito do que já havia sido estabelecido por Wes Craven e Kevin Williamson, não deve ter sido uma tarefa fácil. E é com muita alegria que posso dizer sem medo: "Scream" é uma das poucas franquias de horror (se não for a única) onde TODOS os seus filmes são bons. (Até o 3º filme, considerado um "patinho feio" por muitos, eu tenho em grande estima no ranking).

A forma como os diretores  Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett conduzem os diálogos nas cenas de Ghostface com suas vítimas ao telefone são um primor. Nesses momentos o roteiro brilha por escolher uma característica mais sólida e menos "boba". 

Toda a violência e o gore de um Ghostface que não parece estar mais preocupado com a classificação indicativa também é algo de grande relevância. Porém, esse detalhe da violência nas facadas seria apenas um detalhe se a real ameaça não estivesse também na VOZ. Só é uma pena essa voz não estar carregada de um bom motivo que a justifique. Se pensarmos bem, por detrás de uma mera vingança nos filmes "Scream", sempre há um vínculo muito sombrio. E talvez o grande problema de "Pânico 6" seja estar se vinculando demais a um passado que já se clareou. É isso o que está fazendo a franquia começar a cair na redundância.

"O Santuário" - cena emblemática de "Pânico 6"

Algumas ideias foram muito bem exploradas e a ambientação sofisticada de Nova York passa quase despercebida com uma edição de ritmo frenético que a todo momento mantém um Ghostface por perto. Assim como em seu antecessor, também há uma carga dramática acentuada e muito positiva pra história (principalmente entre os personagens de Melissa Barrera e Jenna Ortega, que conseguem entregar esse lado muito bem), dando liga e densidade para todo o restante do enredo. Uma característica que não teria tanta obrigatoriedade, se tratando de um slasher. 

- "Hello Sid...não, péra."

Mesmo que haja essa tentativa de vínculo emocional criado entre o espectador e o novo elenco, isso não nos deixa totalmente apreensivos com a sobrevivência deles, já que as regras agora são outras e até o elenco base/antigo é de fato ameaçado. A propósito, eles conseguiram driblar muito bem a ausência de Neve Campbell, mantendo pelo menos Courteney Cox como Gale Weathers (voltando a ser Gale Weathers) e trazendo uma queridinha dos fãs de volta das cinzas: Kirby Reed (Hayden Panettiere), que mesmo com toda a alegria por tê-la de volta, achei também que ela foi muito mal aproveitada.

A impressão que fica sobre o final é que os roteiristas estavam mais preocupados com o "recheio da rosquinha" do que com o "buraco no meio dela". Isso não chega a afundar o filme, mas novamente foi o que o impediu de alcançar um nível maior, além da boa e velha nostalgia. E capacidade de alcançar algo maior essa equipe tem, o problema é que já foi a segunda tentativa de nos convencer sobre um bom motivo por estarem fazendo mais filmes com o Ghostface. Diferente de Michael Myers em "Halloween" que não precisa carregar motivos para voltar a matar, aqui, sem um bom motivo não tem o porquê de alguém vestir a máscara branca novamente e perguntar "qual o seu filme de terror favorito?" 


Se o ressurgimento da franquia foi por eles também serem fãs, essa característica deveria ter ficado em "Pânico 5". Agora o filme é outro! Novos horizontes, novas regras, Nova York. E se continuarem nessa linha de raciocínio do que foi apresentado em "Pânico 6" e houver novos filmes, a franquia vai acabar presa dentro de um loop disfarçado de "fantasma do passado". Espero que isso não aconteça.

Sobre o trailer e a classificação indicativa


Se a revelação do assassino/os (a/as) no final foi mais uma vez insatisfatório, agora ainda teve o problema com um trailer empolgado. Nos critérios de avaliação que eu uso pra "peneirar" minha opinião sobre um filme, a impressão que o trailer/marketing passa previamente pro espectador é um fator que pesa e pode interferir na experiência (e automaticamente em nossa opinião) quando vamos assistir o filme na íntegra. 

E no caso de "Pânico 6", o trailer divulgado pela distribuidora Paramount não chegou a mudar minha opinião porque eu gostei MUITO do que vi, mas não teve como não se incomodar por ver que os melhores momentos/cenas do filme  ESTÃO no trailer (mesmo que não na íntegra) e isso acabou tirando o impacto e a surpresa que aquele cenário causaria caso tivesse sido visto somente na hora do filme.

Tirando a cena de abertura, o grand finale e algumas cenas aleatórias que interligam às outras, todos os cenários já haviam sido nos apresentado antes: o metrô, a invasão no mercado, O Santuário, a perseguição da Gale no apartamento, a escada entre os prédios, enfim, acredito que é possível divulgar um filme sem essa necessidade de mostrar quase TUDO dele. Mesmo que não haja spoilers, o trailer não pode estragar falas de impacto que teriam tido um melhor efeito APENAS quando vistas no filme.

Outro equívoco do marketing foi a classificação indicativa para maiores de 18 anos. Um exagero! (ou jogada de marketing?) Daria pra ter ficado como +16 tranquilamente, assim como foi o 5.


"Still Alive"


Mesmo com esse final fraco, "Pânico 6" consegue manter a franquia viva, trazendo algumas ideias frescas, interessantes e inteligentes. Além da abertura já citada que foi de arrancar um "what the fuck?!", as cenas de perseguição foram muito bem dirigidas e ambientadas, os personagens bem desenvolvidos, facadas, facadas e mais facadas com pessoas sobrevivendo a todas essas facadas como se fossem o Jason Voorhees imortal. De um lado, o bom uso do drama familiar, de outro, a falta do humor peculiar, e uma trilha sonora recheada de bons hits.

Espero que respeitem a liberdade de expressão contida no novo livro da Gale caso façam mais filmes. Já que Tara e Sam, na ausência de Sidney, resolveram não respeitar.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR