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"Nova York. Novas regras." |
Por incrível que pareça, acho que essa foi a primeira vez que um filme conseguiu me surpreender mais em seu início do que em seu tradicional plot twist final. Eu pelo menos não lembro de nenhum filme do gênero que conseguiu tal façanha. Não sei se a intenção dos roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick foi realmente essa (acredito que tanto o início, como o final, eram pra ser impactantes), mas "Pânico 6" (2023) possui seu ápice e principal diferencial em sua ousada cena de abertura, com uma genial subversão que deixou muita gente de queixo caído.
Assim como em seu antecessor "Pânico 5" (2022), que apesar de ter o Ghostface mais violento de todos e ter mantido um padrão de qualidade da franquia, teve um desfecho leviano, sem um bom motivo que justificasse todas as mortes e sua violência. Em 2023, a história se repete, mas em Nova York. A diferença é que agora, além do motivo do Ghostface soar redundante, o filme recebeu a maior classificação indicativa de toda franquia - dessa vez, para maiores de 18 anos.
Sabemos do grande mérito por trazer esses amados personagens de volta, agregando questões atuais de forma respeitosa, sem descaracterizar ou fugir muito do que já havia sido estabelecido por Wes Craven e Kevin Williamson nos 4 primeiros filmes. Com certeza, não deve ter sido uma tarefa fácil. E é com muita alegria que posso dizer sem medo: "Scream" é uma das poucas franquias de horror (se não a única) onde TODOS os seus filmes são, no mínimo, muito bons (até aqui).
A forma como os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett conduzem os diálogos ao telefone, nas cenas de Ghostface intimidando suas vítimas, são um primor. Nesses momentos, o roteiro brilha por escolher uma característica mais séria e realmente ameaçadora.
Toda a violência e o gore de um Ghostface que não parece estar mais preocupado com a classificação indicativa também é algo de grande relevância. Porém, a violência nas facadas seria apenas um detalhe se a real ameaça não estivesse também na VOZ. Por detrás de uma mera vingança, sempre há também um vínculo muito sombrio. E talvez esse seja o grande problema de "Pânico 6": se apegar demais a um passado que já se clareou. Isso é o que está fazendo a franquia cair na redundância.
Algumas ideias foram muito bem exploradas e a ambientação sofisticada de Nova York passa quase despercebida pela edição de ritmo frenético. A todo momento temos o Ghostface por perto. Uma carga dramática se mantém acentuada e muito positiva pra história, principalmente entre os personagens de Melissa Barrera e Jenna Ortega, que conseguem carregar isso muito bem. Um desenvolvimento mais denso, que nem estaria como obrigatoriedade por se tratar de um slasher.
Mesmo que haja essa tentativa de vínculo emocional entre espectador x novos personagens, confesso que não foi suficiente pra me deixar apreensivo, torcendo pela sobrevivência deles. Já que, mais uma vez, as regras são outras e até os personagens antigos são de fato ameaçados.
A propósito, eles conseguiram driblar muito bem a ausência de Neve Campbell, mantendo pelo menos Courteney Cox como Gale Weathers em seu modo "raiz" Gale Weathers de ser. Trazendo também, de volta das cinzas, uma queridinha dos fãs: Kirby Reed (Hayden Panettiere), que mesmo com toda a alegria por seu retorno, achei que seu personagem foi um tanto mal aproveitado.
A impressão que fica desse 6º filme é a capacidade que ele tinha de alcançar algo maior. Diferente de Michael Myers, que não precisa ter um bom (ou nenhum) motivo, em "Pânico" sabemos o quanto isso pesa e faz parte de toda a franquia. Sem um bom motivo, não tem o porquê de alguém vestir a máscara do Ghostface novamente e perguntar: "Qual o seu filme de terror favorito?"
Sobre o trailer e a classificação indicativa +18
Apesar de tudo, também precisamos levar em consideração um "trailer empolgado". Nos critérios de avaliação que eu uso pra "peneirar" minha opinião sobre um filme, a impressão que o trailer/marketing passa ao espectador é um fator que acaba pesando na opinião, não apenas por uma hype equivocada, mas por mostrar DEMAIS e interferir na experiência quando assistimos o filme na íntegra.
No caso de "Pânico 6" (2023), o trailer divulgado pela distribuidora Paramount foi ótimo, mas não teve como não se incomodar por ver que os melhores momentos do filme estão no trailer. Isso acabou tirando o impacto e a surpresa que aquele cenário causaria caso tivesse sido visto somente na hora do filme.
Com a exceção da abertura, do grand finale e algumas cenas aleatórias, praticamente todos os cenários já haviam sido revelados: o metrô, a invasão no mercado, O Santuário, a perseguição da Gale no apartamento, a escada entre os prédios, enfim, assistimos o filme já familiarizado com quase tudo. Acredito que seja possível um trailer nos gerar expectativa sem a necessidade de mostrar todas as melhores cenas.
Sobre a classificação indicativa para maiores de 18 anos, um exagero! O filme é sim bem violento, mas o público já está percebendo que isso está mais relacionado à "jogada de marketing" do que pelo filme conter algo que realmente seja necessário receber a classificação máxima. "Pânico 6" poderia ter ficado como +16 tranquilamente, assim como foi "Pânico 5".
"Still Alive"
Mesmo com mais um final fraco, "Pânico 6" (2023) consegue manter a franquia viva. Trazendo algumas ideias frescas, interessantes e bem inteligentes. Além da abertura já citada, as cenas de perseguição foram muito bem dirigidas, os personagens bem desenvolvidos, facadas, facadas e mais facadas, com personagens sobrevivendo a todas elas.
De um lado, o bom uso do drama familiar, de outro, a falta do humor peculiar, com uma trilha sonora recheada de bons hits pra compensar. Espero que respeitem a liberdade de expressão contida no novo livro da Gale. Já que Tara e Sam, na ausência da Sidney, não quiseram respeitar.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR
"Still Alive" - Demi Lovato