[Crítica] Saltburn: O doentio sobre a cobiça


A diretora e roteirista de "Bela Vingança" (Promising Young Woman) está de volta e..."uau!", independente de qualquer coisa, "Saltburn"  é um dos filmes mais ousados que já vi. Geralmente esse tipo de impacto é causado em outro gênero (nos filmes de horror por exemplo), mas aqui, os limites extremos que o ser humano é capaz de trilhar buscando seus desejos/ambições, se torna um drama onde será necessário ter estômago forte para acompanhar seus desdobramentos.

O interessante no roteiro original é o filme blefar em suas pretensões, escondendo o tempo todo seu real caminho, brincando com a mente do espectador e prendendo nossa atenção até o fim, mesmo com a monotonia cadenciada na apresentação de seu mundo burguês. A riqueza em "Saltburn" é interiorizada de forma fria e vazia, sendo muito bem retratada, mas o que seus personagens externam é o que torna o filme intrigante. Fruto também de um bom elenco, que entendeu bem a complexidade que tinham em mãos e souberam levar isso com eficácia.

Emerald Fennell agrada bastante na direção, com a utilização de uma fotografia em 4:3 que eleva bastante a estética. Mesmo que seu roteiro por um instante nos faça questionar se tudo ali é apenas a expressão  de alguma carência ou a necessidade de chamar atenção, ficamos com a alternativa de que tudo acaba se voltando para a excentricidade de seus personagens. 

"Saltburn" nos induz a um desconforto não só pelo o que mostra, mas da forma que mostra. Se ele não conseguisse encontrar um propósito em seus extremos, tudo seria apenas vulgar ou apelativo, mas a questão é que ele consegue equilibrar isso explorando algo muito simples dentro de sua trama: seu lado doentio. É aquela quebra de limites que não só deixa a classificação indicativa para maiores de 18 anos, como também faz isso DENTRO de seus muros.


É um filme bem interessante, mesmo que esse "interessante" seja mais por sua construção de possibilidades do que puramente sobre jogos de oportunismo e desejo. A metáfora da nudez explícita traçada sobre o homem engodado em sua cobiça desenfreada e disfarçada de liberdade, é o que sustenta "Saltburn" em sua trágica arte, mesmo que sua moldura não vá estar numa parede. Depois de tudo isso, a palavra "amor" ou "sexualidade" não entram em cena. Aqui, a questão é totalmente outra.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR