[Crítica] O Exorcista do Papa (2023) VS. O Exorcismo (2024)


O exorcista do Papa tem estilo

Já sou a favor de fazerem um crossover envolvendo o padre Amorth e os Warren da franquia "Invocação do Mal" (The Conjuring). Russell Crowe caiu como uma luva nesse papel e seria um grande encontro. Tenhamos fé e quem sabe um dia os veremos juntos nas telonas.

Em "O Exorcista do Papa" (2023) vi algo muito parecido com o que me chamou atenção e me fez investir tempo assistindo os filmes "Invocação do Mal", mesmo sabendo que seria algo cheio de clichês, com cabeças girando, coisas voando, lentes de contato e uma chuva de jump scares divertindo espectadores em busca de aventuras com os amigos. 

Baseado no livro "An Exorcist Tells His Story" do padre italiano Gabriele Amorth, esse é outro filme onde não temos apenas um entretenimento, mas também um fator de peso (mesmo que seja MAIS UM filme de exorcismo): a história de uma pessoa real, não em formato de cinebiografia ou adaptação, mas "BASEADO" numa história que para muitos é real. 

Ed e Lorraine (considerados demonologistas pela Igreja Católica) foi o grande atrativo quando assisti "Invocação do Mal". Agora em "O Exorcista do Papa" temos Amorth, que além de presbítero, foi exorcista oficial da diocese de Roma e fundador da Associação Internacional de Exorcistas, sendo provavelmente o mais conhecido mundialmente em sua função. Publicou vários livros ao longo de sua história e antes de sua morte em 2016, gravou o documentário "O Diabo e o Padre Amorth" com William Friedkin (vejam bem essa coincidência, o diretor do clássico "O Exorcista"), que foi lançado pela Netflix em 2018.


Voltando para 2023, temos um filme bem produzido e com uma roupagem parecida com os filmes "Invocação do Mal". Porém, aqui, ele opta em deixar tudo mais leve, se equilibrando em um senso de humor. E que bom que sua proposta seja essa, ser apenas um bom passatempo. São tantas questões envolvidas que se eles tivessem seguido uma linha mais "séria", poderia ter dado muito errado, principalmente por utilizarem clichês ultrapassados de forma tão assumida.

O diretor Julius Avery ("Operação Overlord") e o roteiro de Evan Spiliotopoulos ("Rogai por Nós") e Michael Petroni ("O Ritual") consegue construir uma história que nos faz até esquecer do repetitivo e passamos a enxergar esse exemplar com um diferencial. Além do já citado senso de humor e da performance emblemática de Russell Crowe, o filme possui também uma linda ambientação e um design de produção bem cuidadoso.

Só esqueceram do terror. São poucos os momentos que tem essa pretensão de mostrar algo realmente assustador ou diferente de algo que já não tínhamos visto (ou até tiveram essa pretensão, mas o que faltou foi êxito mesmo). As cenas de possessão, mesmo cheias de recursos (CGI) e viração de olhos, fica dentro do aceitável por insistir em usar um formato que não funciona mais. 


Então, o que acaba nos chamando mais atenção é o mistério de seu enredo, o escárnio (beirando o cômico) de mais um demônio que faz parte de uma grande lista e o carisma heróico de Russell Crowe combatendo o mal e pilotando sua lambreta, enquanto o desenrolar da história vai parar quase dentro de um livro do Dan Brown. Somando tudo isso, temos o suficiente. Queriam mais? Só com Russell Crowe fazendo voto de celibato.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR


O exorcismo para os fãs da franquia "Pânico"


Russell Crowe talvez sentiu uma certa vocação, além do que já faz atuando. Com a diferença de apenas um ano entre o lançamento de um filme de mesma temática e outro, ele retorna agora em 2024 com "O Exorcismo" (The Exorcism), filme em que ele não é um padre exorcista, mas um ator interpretando um padre em mais um filme de exorcismo dentro do filme sobre alguém precisando de um exorcista. Não sei se deu pra entender bem, mas é mais um filme de exorcismo.

Devido a tantos lançamentos genéricos e de qualidade duvidosa lançados nos últimos anos sobre possessão, resolvi assistir esse para competir com "O Exorcista do Papa" (2023), não esperando absolutamente NADA dele. Não sei se essa hype baixa que fez eu me surpreender tanto, mas analisando todos seus detalhes e colocando tudo numa balança, acredito que não.

A metalinguagem resolveu entrar no âmbito espiritual da ficção. E falando de metalinguagem, adivinhem quem está envolvido nesse projeto? Ele, nosso querido, amado, ovacionado dos anos 90 e que vem voltando à ativa nestes tempos: Kevin Williamson. Mesmo apenas como produtor, foi difícil não associar essa ideia da metalinguagem ao seu nome, já que a franquia "Pânico" trouxe esse frescor. Mesmo ele não tendo sido o roteirista de "Pânico 3", que de todos os filmes da franquia lançados até agora, é o que mais se joga nesse quesito, com uma história se passando em plena Hollywood enquanto um filme "Stab" era rodado. 

Com a estreia de Joshua John Miller na direção (mais conhecido como roteirista de "The Final Girls") e um roteiro escrito por ele em parceria com seu parceiro M. A. Fortin (vemos outra metalinguagem aqui), temos uma das grandes surpresas do terror em 2024. 

Por incrível que pareça, o filme consegue ter seus pontos altos de uma forma nunca vista antes, mesmo utilizando de elementos já vistos. Não só pela junção de um enredo com metalinguagem + possessão demoníaca, mas também pela forma cadenciada e implícita como tudo nos é apresentado através desses elementos. É assustador. Para quem se decepcionou no recente "Entrevista com o Demônio", esse talvez seja o filme que vai chocar de verdade "uma plateia". 


Pelo fato de traçar uma linha entre traumas, um lado psicológico e o sobrenatural, me lembrou um pouco a perspectiva de "O Babadook" (2014), mesmo que em um contexto diferente e que aqui, tenha assumido um dos lados. Não se enganem achando redundante Russell Crowe em outro filme de exorcismo. Seu personagem aqui é totalmente diferente do visto em "O Exorcista do Papa" e sua atuação acompanha essa diferença, que está ótima em ambos os filmes por sinal. Depois de ter descartado várias produções de premissa questionável que vêm saindo com essa temática, esse talvez me faça dar um pouco mais de chance para os próximos. Principalmente se Russell Crowe estiver no elenco.
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★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR