[Crítica] Pearl: Uma História de Origem "X"


Em 1918, no cenário bucólico de uma fazenda, vivia Pearl. Uma jovem que gostaria muito (mas muito mesmo) de um dia se tornar uma estrela, uma atriz famosa, e assim finalmente poder sair daquela vida pacata, designada a cuidar de animais e servindo (ou seria “honrando” para alguns) seu pai muito doente e sua mãe dominadora. Com essa breve sinopse até poderíamos achar que estamos diante de um filme de drama, caso ele não fosse uma prequel de "X: A Marca da Morte" (2022).

Se passando agora 61 anos atrás aos eventos de "X", o diretor Ti West nos leva a conhecer mais profundamente a personagem velhinha e serial killer de seu primeiro filme. O grande acerto do roteiro, dessa vez coescrito junto de Mia Goth, é desenvolver sem pressa sua personagem antagônica. Querendo ou não, isso é o que acaba fazendo com que olhemos para ele mais como um drama do que um horror. 

Isso pode parecer ruim para alguns que esperavam algo parecido com o ritmo de “X”, e mesmo que a ótima parte estética, com fotografia e design de produção, ainda se mantenha, a história segue de uma forma bem diferente, com uma preparação e desenvolvimento todo exclusivo em Pearl, mesmo que hajam personagens secundários. 

Algo que poderia parecer enfadonho, mas que faz o filme ser bem interessante, justamente por seu personagem central também ser e o enredo trazer seus complementos. Um desenvolvimento que todos já sabiam onde acabaria, com uma bomba relógio prestes a explodir. 

Quando o horror em “Pearl” resolve aparecer, é daqueles de jorrar sangue nas telas, elevando o tom de repulsa e fazendo nosso estômago embrulhar. Leatherface se sentiria lisonjeado com a cena do jantar típico de família.

Mia Goth entrega uma atuação memorável e icônica, algo que destoa bastante do visto em “X”, até porque, o roteiro proporcionou um espaço maior dessa vez. Não que ela não tenha se saído bem como Maxine, não é isso (falo imaginando ela olhando para mim com um machado na mão), mas Pearl foi onde ela teve uma maior liberdade acredito, mesmo sendo dois personagens bem complexos.

Um dos animais de estimação dessa família é bem exótico

A psicopatia retratada seguiu a cartilha, e quando o controle é retirado das mãos da mãe de Pearl e passa a ser dela, temos uma avalanche de frustrações e atrocidades acontecendo através de alguém com a visão distorcida da realidade, capaz de fazer o que for preciso para chegar aonde quer. Vemos uma criança birrenta que não sabe ouvir um “não” e ter seu sonho ameaçado no mesmo lugar de uma mulher com um machado na mão e um crocodilo no quintal ajudando a limpar toda sua sujeira inconsequente.

“Pearl” consegue resgatar o que faltou em seu inusitado primeiro filme, mesmo que para isso sua proposta tenha se dividido com o drama (já que na época em que a prequel se passa, o pornô ainda estava em seus primórdios). 

A cena do monólogo e todo seu plano-sequência é o que nos faz olhar para esse filme de uma forma diferente, e já que a linha temporal entre 1918 e 1979 é longa, quem sabe Ti West não resolva nos contar um pouco mais sobre como a crocodilo Theda se alimentou durante todo esse tempo.
___________________
★★★★ (Ótimo | Nota: 8/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR