Se tratando da necessidade de fazer um remake depois de um grande sucesso em língua não inglesa, me lembrei bastante do sentimento que tive ao assistir “Quarentena” (2008), remake americano da obra-prima espanhola lançada apenas um ano antes – “REC” (2007). Mesmo em meio ao esforço de um elenco competente e roteiro que justificasse um motivo para ele existir, acabou ficando evidente que nem a dificuldade dos americanos em ler legendas seria esse bom motivo.
Com o suspense dinamarquês "Speak No Evil" (2022) levou dois anos. Em 2024 temos a versão americana entregue pelas mãos de James Watkins, de “A Mulher de Preto” (2012), e conseguiram mudar até o gênero do filme aqui - do suspense para o que seria propriamente um thriller (onde “Speak No Evil” nunca foi um terror/horror, nem antes, nem agora).
Acredito que na tentativa de não fazer algo repetido mudou-se bastante coisa, enquanto outras permaneceram praticamente “ctrl C + ctrl V”, principalmente em seus primeiros atos. Talvez o roteiro foi escrito pensando também no espectador que já viu o filme original e que sabia de todo o mistério envolvendo seus personagens. Por isso, a atmosfera sutil, desconfortável e psicológica ficou de escanteio e o foco agora acaba sendo a ação, com um desfecho totalmente diferente do original e que ainda não passou no "Supercine", mas...logo poderia estar animando as noites de sábado.
Justamente por essa mudança drástica em toda sua sequência final, esse filme de 2024 possui dois contrapontos: consegue mostrar algo diferente e não ser mais do mesmo, mas acaba perdendo o que o original tinha de refinado na direção e cirúrgico nas atuações contidas.
Uma tentativa de andar com as próprias pernas, dar um lucro para a Blumhouse e subverter a mensagem, mostrando que onde há personagens de homens permissivos e fragilizados pela sua educação, há também a masculinidade frágil que não suportaria ver isso se repetir no remake. Mas vou fingir que a proposta foi equilibrar toda essa questão na ponta de uma escada e nos divertir sem a pretensão de ser tão bom quanto o original, já que para os americanos não havia legendas dessa vez.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR