[Crítica] Nosferatu (2024): A grande ambição de Robert Eggers


Antes de qualquer coisa, vamos falar a respeito do que Robert Eggers conseguiu entregar aqui apenas com um orçamento de US$ 50 milhões e traçar uma comparação com uma produção de características bem parecidas – "O Lobisomem" (2010), mas esse com o triplo do orçamento – US$ 150 milhões. É um comparativo que vai além dessa questão de orçamento e do horror gótico ou vitoriano, mas em como o resultado de ambos os filmes foi de certa forma similar. Parece, inclusive, pertencerem a um “mesmo universo”, seja de forma intencional ou não. 

Um elenco estelar, escolhido a dedo, e um design de produção e maquiagem que nos faz até esquecer que sua competente fotografia e trilha sonora também estão ali. Duas produções grandiosas, porém, que infelizmente acabam se perdendo em sua própria ambição e nos deixando por esperar algo a mais que não vem.

Diferente de suas ultimas produções – “O Farol” (2019) e "O Homem do Norte" (2022) – dessa vez Eggers consegue expressar mais sentimento e deixar o filme atmosférico, como o visto em "A Bruxa" (2015), saindo de algo apenas de qualidade estética e com boas atuações, para nos imergir também em uma história.
 
Só é uma pena que seu roteiro se atrapalha em alguns momentos, sendo bem compreensíveis os motivos. Baseado no filme mudo e expressionista de 1922, confesso que cheguei para assistir essa “modernidade atrelada ao passado” sem saber muito sobre sua base, apenas que se tratava de um vampiro “inspirado” em "Drácula" de Bram Stoker, que agora se chama Conde Orlok e que é cheio de problemas com direitos autorais. 

Mesmo tendo lido o livro de Stoker, e aqui, enxergando nitidamente uma ADAPTAÇÃO (mais uma) dessa obra, a estranheza de personagens com nomes alterados foi algo simples de se irrelevar e muito fácil de se associar, afinal, “Nosferatu” (1922) já tinha esses mesmos problemas. 

Lily-Rose Depp como Mina Harker em...não péra!

A questão foram os excessos, e isso não tem a ver com a grandiosidade técnica. Eggers tenta dar espaço para vários personagens de Stoker (pois são vários) e isso acaba tirando bastante o foco e abafando o clímax quando ele chega (e dessa vez ele chega), mas que rapidamente se esvai junto com a dispersão de seus personagens. Afinal, se o filme é baseado em "Nosferatu" (1922), por que esse apego à base da obra de Stoker? O filme até poderia fazer algumas referências, mas aqui temos praticamente uma adaptação, que só não é tão "ctrl C + ctrl V" como o filme de Francis Ford Coppola de 1992.

Mesmo assim é uma obra grandiosa, apegada a essa imagem de clássico, mas que não surpreende um público já cansado de adaptações do Drácula (que aqui é Orlok). Não vou nem falar sobre a caracterização grotesca do vampiro, que poderia tranquilamente ser o novo vilão da DC. Até seu bigodão de sr. Madruga dá um tom original e a voz (que sinceramente me pareceu com retoques de IA), uma das mais ameaçadoras do cinema, nos faz até esquecer que era Bill Skarsgard debaixo de toda aquela maquiagem.

O filme consegue superar todos esses empecilhos trazidos de 1922, mesmo que no final o que acaba impressionando mesmo foi como os US$ 50 milhões foram bem utilizados, principalmente em seu design de produção, com filmagens passando por Praga e pelo Castelo de Corvin, na Transilvânia.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR