Fui pego de surpresa por um filme que possui um cartão de visita clichê, mas que consegue se sobressair em alguns pontos interessantes, com uma história simples, mas uma execução bem criativa e satisfatória. Dirigido pelo espanhol de currículo variado – Jaume Collet-Serra, de A Casa de Cera (2005) e Águas Rasas (2016) – “A Mulher no Jardim” (2025) consegue prender nossa atenção por aquilo que não explica, enquanto constrói, em seu timing, um clima de tensão pelo fato de aparecer, do nada, uma mulher de preto sentada numa cadeira, à certa distância, no meio do jardim.
Ela não bateu palmas. Não apertou a campainha. Não chamou pelo nome de alguém, nem estava vestindo o uniforme do Correios. Ela só apareceu, e ficou ali. Sentada de frente para a casa, com um véu tétrico ocultando seu rosto, estática, como se esperasse algo dos moradores que não fosse uma ligação para a polícia.
É nesse simples e sinistro cenário, que nos remete ao formato de um conto de terror, que Jaume consegue fazer a mágica acontecer e construir momentos que vão fazer muitos sentirem arrepios na espinha. Não é um filme tão intenso no quesito medo e sustos, como "O Que Ficou Para Trás" (2020), mas ele possui conteúdo de qualidade o suficiente para divertir os amantes do gênero.
Outro ponto de destaque é a caracterização da mulher do título. Pra não dizer surpreendente, quando ela resolve levantar da cadeira e começar a se aproximar da casa. Quando os mistérios se revelam, vemos que a história não tem tanta força nesse ponto (além de alguns furos no roteiro), mas o que consegue causar em sua execução e o pouco do drama que constrói em seus personagens, já acaba bastando para um bom entretenimento.
Quem assistiu "A Casa Sombria" (2020) vai conseguir acompanhar melhor aquilo que a história não explica. Afinal, não é porque ela se passa à luz do dia em boa parte de sua duração, que não há algo de oculto, preso à escuridão.
O pouco que revela já é o suficiente, e é justamente isso que faz o filme ter alguma graça. Quando se demora demais em “explicar o oculto”, o medo do desconhecido deixa de existir, porque a luz entra. Mesmo que, em algumas histórias, a luz tenha apenas o papel de mostrar o que está no oculto. Já RESOLVER o problema, é uma escolha onde não há uma 3ª via.
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★★★ (Bom | Nota: 6/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR