Uma carta de aviso aos adolescentes
Não é de hoje que a ficção utiliza da necromancia para elaborar roteiros horripilantes e levar muitos jovens para o cinema em busca de novas aventuras. A diferença em “Fale Comigo” (2022) fica diante da luz de uma vela, onde a atmosfera do terror (medo) é intencionalmente transformada em um aviso, com uma mão decepada e embalsamada estendida à frente, num cenário onde o luto e a saudade são desesperadores e uma roda de amigos (mais uma vez) resolve brincar com o oculto mesmo sabendo que esse “aperto de mão” não possui intenções verdadeiras.
Antes de falar sobre a direção dos irmãos gêmeos australianos Danny e Michael Philippou, segue uma breve descrição da história de vida deles para entendermos um pouco sobre as entrelinhas de "Fale Comigo":
“Danny e Michael Philippou nasceram em 13 de novembro de 1992. Eles começaram a filmar suas lutas de wrestling no quintal com amigos próximos em Adelaide quando tinham 11 anos, inspirados pela WWE. Isso incluía cenas dos irmãos batendo em móveis, "virando crianças e jogando-as de cabeça no chão" e "pulando de tudo", incluindo telhados. Eles também filmaram em uma casa pela metade e causaram uma inundação no local. Mais tarde, eles disseram que algumas das coisas que fizeram foram extremamente arriscadas e até fatais, e ficaram gratos à irmã mais velha de um amigo que os ajudou a evitar essas coisas que poderiam tê-los levado ao caminho da delinquência juvenil...”
Acredito que, com isso, podemos entender o porquê de todos os elementos "alarmistas" e de conscientização envolvendo o enredo de “Fale Comigo” (2022). A influência de um “amigo” adolescente com um cigarro na mão, ou uma mão oferecendo uma experiência após alguém ter morrido por conta de muitos cigarros. Enfim, talvez os gêmeos quisessem se redimir de alguma forma com esse filme e ir pro Céu, ou só receber um bom presente do Papai Noel no final do ano por terem se comportado, quem sabe. Cada um acredita em uma coisa, almejando tantas coisas diferentes.
A questão é que o filme é muito bom, mesmo que ele pudesse ter alcançado um nível maior quando falamos propriamente do gênero terror. Mesmo a “mão” na direção sendo muito boa, “Fale Comigo” (2022) não poderia ter deixado de lado a atmosfera do medo, porque, antes de tudo, o filme é de terror. Sabemos que o desconforto que o espectador sente ao ver adolescentes sendo babacas, rindo de forma descontraída enquanto pessoas ficam possuídas, fazia parte da proposta. Mas existiu momentos em que o medo pudesse ter sido mais intenso pro filme sair do que seria apenas um flerte.
Ainda assim, os irmãos Philippou conseguem surpreender pela construção da história, com um roteiro sensível e amarrado, coescrito por Danny e Bill Hinzman, e um plot twist muito bom. Valendo ressaltar, claro, o orçamento de apenas $ 4,5 milhões. Então, mesmo que tenha faltado uma inspiração no Mike Flanagan para as cenas com espíritos, “Fale Comigo” (2022) consegue sair dos clichês e inaugurar muito bem essa carreira promissora no cinema, com estes gêmeos australianos que trazem algumas questões onde a arte acaba imitando a vida.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)
*Visto em áudio dublado: Português
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR
Faça o terror voltar
Com "Faça Ela Voltar" (2025) os irmãos Philippou resolveram ir mais fundo, não apenas entrando em contato com os mortos, mas trazendo-os de volta. Mais um filme que aborda o luto familiar como parte central de uma história que acaba se envolvendo com aquilo que “você-sabe-quem”. Ou seja meus queridos, é SATÂNICO o negócio! A classificação indicativa para maiores de 18 anos não é marketing dessa vez. Realmente as cenas de automutilação e nudez explícita estão ali, beirando um pouco o que vimos nos últimos atos de "Hereditário" (2018). Mas como sabemos, não só de uma boa maquiagem e rituais do ocultismo e/ou da feitiçaria que um filme de terror viverá.
Assim como em sua obra de estreia, os diretores australianos acabam deixando de lado o fator medo, e o choque visual e o body horror é o que tentam sustentar uma história que, dessa vez, não demonstra em nenhum momento querer ser surpreendente.
O incômodo que sentimos é pela falta de harmonia na transição de seus atos, talvez por uma edição desorganizada. Algo bem diferente do visto em “Fale Comigo” (2022) por sinal. Tudo bem que o personagem de Sally Hawkins tenha um certo desespero, mas faltou dosar melhor isso pra haver um pouco mais de mistério.
Quando se trabalha com tantos elementos e tantas possibilidades, mas não se consegue organizá-los em seu desenvolvimento, os seus desdobramentos acabam perdendo o impacto. Ficamos, então, apenas com cenas extremas de gore e a insanidade que se apresenta como uma força oculta em meio ao luto. E convenhamos que isso nós já vimos muitas outras vezes.
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★★ (Regular | Nota: 5/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR