[Crítica] Pobres Criaturas: O instinto animal no ser humano racional


Dirigido por Yorgos Lanthimos (de "A Favorita") e baseado na obra publicada em 1992 por Alasdair Gray, não sei dizer se o filme seguiu a mesma linha que o livro, mas o roteiro de Tony McNamara conseguiu desenvolver muitas coisas. "Pobres Criaturas" não é uma história sobre liberdade e descobertas, mas sobre amadurecimento. É uma brincadeira com o ser humano que nos faz rir de nós mesmos enquanto pensamos que nunca tivemos atitudes parecidas. 

O filme merece toda essa notoriedade por conseguir desenvolver algo único, não apenas por sua excentricidade, mas também pela originalidade na forma que expressa suas ideias. Sabemos dessa nova "Era do surrealismo" no cinema, e vemos que "Mãe!" de Darren Aronofsky realmente veio para abrir mentes (ou lembrá-las dessas possibilidades) e não apenas nos gêneros suspense/terror. A questão é que aqui não vemos o surrealismo, que já se encontra fadado à monotonia depois de tantos exemplares, mas algo que nos faz até ficar sem saber como definir o seu gênero, se "fantasia", "ficção científica" ou ambas as coisas, independente de sua forma de expressão. 

Fica claro que tudo tem o porquê de estar ali e como as técnicas de fotografia também são utilizadas de forma rica e criativa (e não vou nem comentar sobre o design de produção e figuro). Lanthimos conta uma história que transita entre o preto e branco e o colorido saturado, para depois voltar às cores frias da fase adulta, colocando sua personagem central nesse desenvolvimento que explica muito sobre como ela enxerga o mundo (ou aquilo que se encontra ao seu redor). 

A figura feminina é utilizada como experimento "trifásico", em que a infância, adolescência e fase adulta estejam num mesmo corpo que acabou de receber uma descarga elétrica e saiu para desbravar o mundo. O resultado disso é o que vemos em tela. E sim, Emma Stone está totalmente entregue a proposta. Não só ela, como todo o elenco. Só acho desnecessário o nu frontal ser um dos critérios de atuação para chamar a atenção das premiações. Por esse motivo não torço para que ela ganhe dessa vez e isso continue se propagando como referência.


É interessante e muito criativo, mesmo que haja tanta insistência apenas em descobertas sexuais em boa parte de sua duração. O filme beira o soft porn (beira? Bom...não vejam esse filme em família se isso os constranger) e um lado ninfômana, como se houvesse apenas isso a ser mostrado em sua intensidade de questionamentos que afloram em seu corpo. Cenas de nudez e sexo explícito que não estão ali para instigar excitação no espectador, claro (que é o que um filme pornô faz). Aqui, as intenções são bem claras e por incrível que pareça, podem soar até "puritanas". 

Diferente do recente "Saltburn", que escancara a mesma coisa só que de outras formas, a crítica ao próprio ser humano se mantém. E isso é evidenciado de uma forma certeira, dentro de um equilíbrio que estaria entre o apelativo e a mensagem que carrega. 

Mesmo que seja um filme que depois de um tempo seja esquecido, com certeza ele não é algo que poderia passar despercebido. Ele causa no espectador justamente aquilo que desenvolve em sua história: amadurecimento. 
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR