[Crítica] Stopmotion (2023)

O mais interessante aqui não é apenas a utilização de um stop motion bizarro como catalisador do terror, mas de toda a metalinguagem envolvida dentro de sua história, e até fora dela. O diretor e roteirista britânico Robert Morgan, com uma filmografia de curtas-metragens premiados, decidiu partir para um longa-metragem agora. Fico imaginando ele olhando para seu currículo (que inclusive, possui curtas de horror em stop motion) e pensado: "Chegou a hora de estender isso a outros públicos".

Unindo isso a personagens de carne e osso e de mente transtornada, o roteiro só precisava desenvolver uma história em torno deles e utilizar de algo raríssimo dos tempos atuais no gênero terror/horror: o psicológico. Um elemento que dá essa liberdade surreal de não precisar explicar muitas coisas, induzindo o espectador não apenas a pensar, mas também a olhar para uma bola de cristal e adivinhar o porquê de certas coisas. Ou simplesmente esperar os criadores darem uma entrevista reveladora/explicativa. 

A protagonista do filme dentro do filme em "Stopmotion"

Mas o bacana mesmo aqui é o terror, que nos é apresentado de forma bem diferenciada. As sensações que o filme nos proporciona sem essa necessidade de um roteiro com história mastigadinha, afinal, não precisamos de pontas para amarrar aquilo que ficou solto, para isso temos imaginação. E como espectadores, não precisamos de algo que nos direcione para algum sentido coerente à história, temos o poder de entrar na mente do diretor/roteirista ou simplesmente tirar conclusões subjetivas e inconclusivas. 

Isso é o que vem sendo utilizado em vários filmes "psicológicos" e/ou surrealistas. "Men: Faces do Medo" (2022), "Saint Maud" (2019), "O Farol" (2019), "O Poço" (2019), enfim, a lista vem crescendo bastante ultimamente, mas nem sempre as coisas caem num vazio imersivo ou sentencial.

Agora, voltando a falar de curtas-metragens, fica difícil não pensar que "Stopmotion" pudesse ter dado até mais certo nesse outro formato. Essa necessidade do roteiro de inserir subtramas pra "encher linguiça com carne de animal morto", acabou se perdendo em certo momento. Mesmo que isso não chegue a atrapalhar toda a experiência, mas fragmenta bastante sua densidade. 

Lembrando que temos aqui um diretor/roteirista ganhando experiência em um novo formato. E o que ele tinha de bagagem em curtas, ele consegue utilizar muito bem. Esse é o ponto alto de "Stopmotion", um filme feito basicamente para impressionar com suas bizarrices ganhando vida e isso por si só já é o que o torna interessante. Assim como o ótimo "Censor" (2021), ele consegue sair da curva e nos apresentar algo enriquecedor até mesmo dentro do que seria o próprio universo cinematográfico.
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★★★ (Muito bom | Nota: 7/10)

*Visto em áudio original: inglês | Legenda: PT-BR