[Crítica] In a Violent Nature (2024): Esse não foi feito pra ser lançado pela Netflix

A crítica especializada vem falando bem e o filme causou burburinho no Festival de Sundance. Dei uma espiada (de um ponto de vista bem diferente) e realmente impressiona bastante. Dirigido e escrito por Chris Nash, "In a Violent Nature" é um slasher canadense que conseguiu a FAÇANHA de fazer um "horror elevado" com o primo do Jason Voorhees, sem deixar de utilizar as características já peculiares de seu subgênero. 

Ele vem sendo divulgado com esse diferencial: a história se passar através do olhar do assassino. Um fator que poderia ter dado muito errado, mas que conseguiu ser utilizado com maestria. Claro que esse ponto de vista tira bastante a criação de tensão, afinal, quando estamos ao lado da ameaça na maior parte do tempo, não temos nenhuma apreensão/iminência sobre ela. Porém, isso não quer dizer que esse outro lado não gere no espectador um sentimento constante de repulsa. Fora que o filme sabe equilibrar muito bem seus ângulos. 

Não vou entrar nessa questão das mortes porque é o que todos esperam de um slasher, mas meu querido? Esse filme parece ter sido feito sem preocupação alguma com a classificação indicativa, fazendo jus ao seu título. Acredito que aqui houve a tentativa de agradar dois extremos: o público descompromissado que só quer saber de ver sangue e personagens burros morrendo de forma bizarra, e aqueles que também esperam algo a mais, mesmo se tratando de um slasher.

A violência explícita e exacerbada impressiona por sua criatividade e pelo tom divertido, enquanto o outro lado (mais cru e realista) não deixa de caminhar junto, mesmo que isso fique apenas na iluminação natural de sua fotografia e na imersão sonora da natureza, através de uma ótima mixagem de som, buscando em sua proposta esse equilíbrio: a diversão de um "slasher raiz e cult".


Pode colocar "In a Violent Nature" como um dos melhores filmes se tratando de MORTES. Eli Roth possivelmente ficou com inveja, caso ele seja inseguro e compare esse exemplar com o apresentado no seu "Feriado Sangrento". O gore exagerado e o sadismo caminham juntos com a liberdade sobrenatural de seu vilão em meio à natureza. Então, temos aqui um prato CHEIO para os amantes de sangue e tripas. Por um momento, a vontade que dá é de fazer o filme ser mais longo só para podermos ver mais mortes.

Talvez o que choca aqui é esse efeito de duas propostas extremas e diferentes caminhando juntas, pela premissa de sua qualidade técnica que vai inserindo repentinamente toda a bagaceira de mortes mirabolantes (mesmo que bem feitas), enquanto contemplamos as belas paisagens naturais, ao som de passarinhos cantando no meio de uma mata que não parece ser mais virgem. 

De um lado temos cenas de decapitação com a utilização de "bonecos cinematográficos" (afinal, o elenco não se dispôs a morrer de verdade pra que tudo ficasse mais real). De outro temos a crueza de um filme despido de trilha sonora, que leva o espectador a fazer uma "trilha" junto de um assassino, onde o som é apenas de vozes distantes, de passos cadenciados e gravetos quebrando, enquanto aguardamos outras coisas começarem a quebrar, os gritos de horror ecoarem, seja no meio do dia ou no breu da noite, e os pedidos de socorro sendo abafados pelas árvores, sem ninguém por perto para poder ajudar. Dessa vez não houve tempo de olhar no celular e constatar que nele não havia sinal, mesmo em meio a lentidão locomotora do assassino. Dizendo tudo isso, pode parecer que tudo tenha dado errado, mas Chris Nash fez todo esse contexto dar certo.

Tenho que citar a cena do lago como aquela que fez o filme saltar do ótimo para o excepcional. Aqui vemos uma exceção, onde a opção por algo menos exagerado surtiu um efeito bem diferenciado. Um ângulo implícito, mostrando outro lado do slasher onde o choque não fica retido numa cena em que tudo se vê.

A aleatoriedade e impulso do assassino me lembrou um pouco Michael Myers de "Halloween" (2018), mesmo que a referência ao som de uma respiração dentro da máscara tenha sido trocada pelo som de passos numa floresta. 

"In a Violent Nature" não é um filme perfeito, mesmo que tenha chegado próximo disso no que se propõe. Sem termos uma exigência maior quanto ao roteiro (até porque, se trata de um slasher), ele consegue construir uma história bacana e se sustentar, inserindo um diálogo final que tenta traçar algo mais relevante em uma metáfora paralela aos acontecimentos, brincando com um lado psicológico, mas que acabou ficando mal sintetizado, mesmo que a intenção tenha sido muito boa. Se não houver uma sequência, fica aqui essa inspiração vinda de uma vegetação canadense. Quem sabe se houver outro filme da franquia "Sexta-Feira 13" não confiem nas mãos de Chris Nash. 
_______________________
★★★★ (Excepcional | Nota: 9/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR