[Crítica] MaXXXine: Onde nem tudo que brilha é ouro



Antes de qualquer coisa, precisamos estabelecer uma ordem cronológica nessa trilogia:

1979 – X
1918 – Pearl
1985 – Maxxxine

Pearl e Maxine. Dois personagens diferentes interpretados por Mia Goth, em épocas diferentes e com a mesma ambição: ser uma estrela de cinema. Após terem seus destinos cruzados em "X: A Marca da Morte" (2022), agora em “MaXXXine” (2024) Ti West conclui essa trilogia mostrando a trajetória de sua personagem mais jovem, sobrevivente do primeiro filme, que foi para Hollywood realizar seu sonho americano e sobreviver novamente.

O que havia faltado de desenvolvimento na história de “X”, foi suprido em "Pearl: Uma História de Origem X" (2022). Já em “MaXXXine”, acredito que não havia essa necessidade, afinal, Pearl acaba sendo um elo de sonhos entre essas personagens de características peculiares, e o que precisávamos agora era apenas uma conclusão. O roteiro de Ti West consegue amarrar o que ficou solto no primeiro filme, trazendo à tona os mistérios de um passado mal resolvido.


Sobre as mudanças no gênero e críticas sociais

Engraçado que, aqui, nós não temos um slasher/pornô (“X”), nem um drama/horror (“Pearl”), mas propriamente um thriller/mistério, dando pra perceber que a intenção de Ti West com essas alternâncias foi de sempre mostrar algo novo através de emoções diferentes, mesmo as histórias desses três filmes estando interligadas. Porém, o que ainda não ficou claro para mim foi a real intenção com as críticas sociais que ele faz (ou que dá a entender que faz), principalmente em “X”, e agora em “MaXXXine”.


Acreditaram talvez que tudo seria engolido facilmente pelo espectador, ao mesmo tempo que sabiam com quais temas estavam lidando, preferindo deixar tudo no implícito mesmo sendo filmes de temática explícita (+18). A questão é que mesmo escolhendo deixar tudo nas entrelinhas, a mensagem não pode se contradizer no que ela mesmo propaga, dando a entender que questões sociais foram levantadas para chegar no fim e dizerem que o importante foi a nossa pipoca. 

O roteiro acabou caindo na hipocrisia que ele mesmo denuncia por não conseguir estabelecer um princípio. Desde “X” ele levanta o confronto entre "moral X imoral" com um discurso que vai do mercado pornográfico até o fanatismo religioso, mas sem dizer ao certo o que ele acredita ser moral e imoral. 

Ou, Ti West confrontou a hipocrisia seguindo de forma assumida uma ideologia que defende a ausência de moral (e teria sido bem melhor que fosse apenas um slasher), levantando pontos que a religião considera uma perversão (mesmo praticando algumas delas), mas deixando a entender que uma sociedade livre está associada a um anarquismo. Mesmo que certos personagens de sua trama são a representação dessa aversão a normas e leis, acredito que as coisas se tornaram complicadas quando se tentou misturar ficção com realidade e fazer uma crítica social.

Não sei se para alguns esses pontos citados de "X" estão CLAROS em cima da mesa, mas em “MaXXXine” tudo se complica ainda mais. Estamos falando da história de uma mulher que tem o sonho de ser atriz, seu caminho passa pelo mercado pornográfico até ela conseguir chegar em Hollywood e precisar mostrar os peitos para conseguir um papel num filme. Sabemos que nos anos 80 as coisas eram diferentes, mas o ano agora é 2024.

Sinceramente vou ficar sem entender onde começa a intenção e termina a malícia nisso tudo, e não é de hoje que venho falando sobre filmes entrando em assuntos polêmicos para inserir “crítica social”, mas parecendo não saber direito onde estão pisando. (Ou até sabem, e isso que é pior).


Um final mal acabado

Voltando a falar da ficção, “MaXXXine” não é um filme ruim apesar de tudo, tem os seus momentos interessantes e cheios de ironia, com toda a metalinguagem por se passar numa Hollywood dos anos 80. Mia Goth continua muito bem, mas as escolhas que o roteiro faz para concluir o filme (e a trilogia) soam esgotadas para não dizer capengas, além de previsíveis pela necessidade de estabelecer uma ligação com pontas que ficaram soltas. Moral da história (e todo filme deveria ter uma, afinal, isso faz parte da cultura na sétima arte, independente do gênero): Esse mistério blasfemo acabou não sendo uma novidade para nós.
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★★ (Regular | Nota: 5/10)

*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR