Poucas vezes um filme conseguiu me deixar dividido entre “razão x emoção”, com tantos elementos bons e ruins misturados numa obra onde o carinho e a memória afetiva tentam falar mais alto. Da mesma forma como foi no reboot de "Mortal Kombat" (2021), agora temos esse desequilíbrio com o nostálgico retorno do slasher noventista “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (2025).
Os motivos que fizeram tais filmes chegarem a esse destempero quando olhamos para seu conjunto geral, com pontos positivos e negativos em tamanha discrepância, podem ser muitos. Acredito que, aqui, a inexperiência de Jennifer Kaytin Robinson na direção e um roteiro coescrito com Sam Lansky, é um dos principais motivos para esse resultado final.
Quando isso acontece, costumo fazer uma review listando as qualidades e os defeitos, buscando um equilíbrio justo em meio a tanta disparidade de elementos, independente da nostalgia e do fanservice ao qual eles tentaram se sustentar.
Pontos positivos:
- Com certeza, o retorno do elenco de 1997, com Jennifer Love Hewitt levando muitos fãs ao cinema para ver Julie James de volta! Vivemos uma época muito especial de “retornos”, com Neve Campbell na franquia "Pânico" (2022) e Jamie Lee Curtis em "Halloween" (2018). E sim, sabemos o quanto tudo isso é surreal;
- Filme bem produzido, com um orçamento razoável – US$ 18 milhões;
- Momentos icônicos em que o roteiro enaltece e faz a personagem veterana - Julie James - carregar a cena de uma forma única e especial;
- O “elenco jovem” (mesmo que todos já estejam chegando na casa dos 30) consegue segurar o filme na atuação, passando com muita resiliência por momentos de insegurança do roteiro, onde sentimos quase uma “autodireção”. Esse ponto é um dos que faz com que tudo não seja uma completa bomba;
- Ambientação de Southport. Mesmo em uma simples cidade litorânea, preferiram mesclar. Então, veremos mortes acontecendo em um antigo estabelecimento e também em mansões luxuosas com pouco investimento em segurança;
- Uma cena pós-créditos que, apesar de tudo, faz o ingresso valer MUITO a pena;
Pontos negativos:
- A primeira coisa que iremos perceber nesse reboot é que ele está mais pra remake. A sensação que estamos REVENDO o filme de 1997 é um fantasma que joga um balde de água fria em muita gente que achava que existiria um bom equilíbrio entre originalidade + referências ao original. Nisso, o filme peca TERRIVELMENTE, demonstrando estar o tempo todo dependente à estrutura e aos elementos da história original. O pior é que, ao mesmo tempo que ele traz várias cenas iguais e conecta nossa memória aos anos 90, ele faz isso sem personalidade alguma, de forma forçada, e até, ruim;
- O problema nem foi o acidente inicial acontecer NO MESMO LUGAR do ocorrido em 1997, mas a forma banal que isso acontece. Se o carro caiu na ribanceira, não sei COMO o filme não foi junto;
- Sabemos que o slasher é um subgênero que nunca fomentou o “pudor” no que diz respeito ao SEXO, mas não precisava fazer o espectador sentir vergonha alheia. Se a tentativa foi de riso, gerou um constrangimento seguido da morte de um personagem nada broxante;
- Jump-scares muito mal construídos, que nos faz duvidar de suas reais intenções;
- O trailer. Não que ele fosse ruim, muito pelo contrário, é um dos melhores que vi ultimamente, inteligente e que traz o “karma” como metáfora (pra depois vermos que isso não vai significar NADA pra história do filme). O problema é que ele entrega (mais uma vez) praticamente TODAS as melhores cenas e frases de efeito do filme, mesmo que não na íntegra. E esse marketing não tem nada de inteligente! Algo bem parecido aconteceu com "Pânico 6" (2023), quebrando bastante o impacto que algumas cenas causariam.
- As mortes, as cenas de perseguição e o gore (principais itens de um slasher) não apresentam nada que realmente impressione, mesmo que mantenham um certo nível, que vai do “ok” ao inusitado ou de gosto duvidoso.
A balança "razão x emoção"
Quando colocamos seus pontos positivos e negativos numa balança, vemos que o efeito sonoro na lâmina de um gancho não resolveria os problemas e deixaria o filme mais apresentável aos cinemas. As tentativas de gerar mistério no quesito “quem é o assassino?” são até esforçadas e seguram bem as pontas. O auge do livro de Lois Duncan - a fuga por uma janela -, é mais uma vez lembrada e o plot twist é uma das coisas mais ousadas que já vi! Não considerei essa revelação final decepcionante, até porque, foi o que amarrou toda a história, que se repetia outra vez, sem muita base do porquê. Porém, ser insano não quer dizer ser criativo. Às vezes, uma ideia é apenas insana.
E nem vou comentar sobre o momento que uma personagem aponta um sinalizador pro Fisherman pra se defender. Esse tipo de coisa prefiro fingir que não vi, ou considerar uma tentativa de humor indevido. A questão é, não usarei como contraponto “razão x emoção”, mas “inexperiência x fanservice”. Antes de tudo, deixo bem claro minha alegria (agora entrando no lado emocional) em poder ver uma das personagens favoritas do slasher de volta às telonas após 27 anos, e de forma tão icônica.
“Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (2025) é como um jantar em um casamento onde te servem um prato com um peixe maravilhoso e que tenta ser sofisticado, mas uma “farofada” de acompanhamento que veio caindo pelas bordas, aparentando ter sido feita com dúvidas em seu "modo de preparo", sem a personalidade e maturidade necessárias. Fico, então, com o peixe. Sem ser aquele tipo de convidado que sai reclamando da festa. A nostalgia e o retorno do elenco antigo é o sal.
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★★ (Regular | Nota: 5/10)
*Visto em áudio original: Inglês | Legenda: PT-BR